o verão fica-nos bem

“Quero o inverno outra vez”,
Disse ele ontem, já ensonado.
E entre o sono eu sorri, também quero esse inverno citado.

Hoje, tenho a certeza: o inverno pode esperar.
E peço ainda, se possível, que as horas passem bem devagar.
Que os ponteiros, desnorteados, tropecem nos minutos já contados.
Que os dias se alarguem numa preguiça matinal.
E que o Sol se engane na estrada para Poente.
Que o dia volte atrás, por cada noite em frente.

Que o mundo, ao seu jeito, gire que nem tartaruga.
Que a vida, pachorrenta, se demore no passar:
Tal qual moça vaidosa, quando se quer pôr bonita
Ou como o moço que, por má sorte,
Não encontra o par da peúga.

Não tenho, amor, porque apressar
Esse inverno que me dizes
Porque ao teu lado, nos entretantos,
Eu só conheço horas felizes.

Além do mais e também,
O retrato é quem o diz: o Verão fica-nos bem.

plano secreto

Hoje saíste de casa assim, com um grande sorriso. Até os meus olhos turvados de sono o conseguiram reconhecer. E não há melhor sorriso do que este. O sorriso de quem está em paz consigo e com a vida. O sorriso de quem se levanta para caminhar na direção dos sonhos, ainda que eles possam parecer um pouco turvos também.

Sei que vou insultar muitas vezes esse comboio que te leva para longe de mim. Mas sei que o vou perdoar todos os dias, quando trouxer o teu abraço de volta. Tenho muito orgulho em ti. Vejo-te a colecionar sucessos, vejo a forma humilde e construtiva que usas para tirar partido das tuas derrotas. Importas-te, constróis, não fazes por fazer. És um grande ser humano. Onde vais, marcas a diferença. No trabalho e, mais do que isso, nas pessoas. Quem já teve a sorte de trabalhar contigo sabe bem do que falo. Eu sou uma sortuda, mas eles não ficam atrás.

Vai e sorri muito.
E mostra a essa malta toda porque é que eles vão ser uns sortudos também.

Hoje é o primeiro dia do nosso plano secreto.

faz as malas

Faz as malas, que amanhã, vai ser verão outra vez,
Vesti o outono de verde, pendurei-o de volta nos ramos
O inverno quis ir-se embora, diz que não sabe a quantas andamos
E desfiz os relógios em peças, para que não haja pressas.
De manhã, pela calada, fazemo-nos de novo à estrada
Para trás ficam os “ses”, as utopias, o “quem-me-dera”.
E se o futuro ligar, será fácil de empatar:
deixamos a chamada em espera.