a minha pior versão


Olá, chamo-me Diana, e assumo hoje, publicamente, a minha vontade de dedicar 15 minutos diários a construir a pior versão de mim. A contar a partir de amanhã, principalmente se for Natal, feriado, ou o jantar excepção da semana (ou qualquer outro inimigo da dieta que consigam imaginar agora).
15 minutos por dia em 24 horas parece um desafio plausível, uma promessa aparentemente atingível mesmo para o mais experiente político. Mas não ignoremos as armadilhas, portugueses e portuguesas. Ou portuguesas e portugueses, se fizer diferença para alguém.

Apresento a primeira, que o preço do tempo por estes dias consegue cortar a meta umas quantas voltas antes do preço dos combustíveis. Dormir. 8 horas de sono necessárias para que o meu cérebro (e provavelmente o vosso, se decidiram viver a vossa vida ao lado de um) não entre em greve no dia seguinte. Pelo menos não durante este mandato, já todos percebemos que esse não parece ser o caminho mais eficaz para a negociação.

Seguimos com um pequeno almoço mais colorido que o anúncio de abertura da SIC nos anos 90 (então gritei, aconteceu!!), variando no cereal protagonista porque o futuro é a diversidade, e, se estiver de chuva, adicionar uns frutos secos que contam como contributo matinal pelo equilíbrio natural. Findo o investimento de 50 minutos na preparação e ingestão da primeira refeição do dia, convém apressar o banho porque isto de sentir a água a cair na pele ao som de uma canção aleatória até embaciar o espelho da casa de banho é um capricho que não pode ser cultivado ou corremos sério risco de criar humanos ociosos e fenómenos de humidade habitacional em larga escala. Já para não falar que escrever palavras espontâneas em vidros embaciados é compatível com um nível intolerável de infantilidade. Especialmente se forem dedicatórias de amor. Para terceiros. O amor-próprio está na moda e devemos praticá-lo todos os dias: 3 minutos de elogios enquanto escovamos os dentes, pausa para bochechar, mais três minutos de silêncio para que o mundo tenha oportunidade de nos agradecer antecipadamente pela nossa autenticidade e existência. Mãe, Pai, nada pessoal, mas no final de contas quem decidiu nascer fui eu.

O próximo passo será tão mais demorado quanto mais desatualizados estiverem em relação à coleção primavera-verão do ano corrente. Não esquecer de verificar a previsão meteorológica para fazer pandam com a indumentária. Em dias de nevoeiro apostar nas cores garridas de forma a evitar choques em cadeia com os telemóveis com quem se cruzar a caminho do trabalho, que, cada vez menos tímidos, têm saído à rua para passear pessoas.

Um dia de trabalho normal. Alguém a querer que dê o seu melhor, que faça melhor, que seja melhor. Na melhor das hipóteses, pelas melhores razões. Pode também dar-se o caso de pertencer aquela classe louca de profissionais que, por brio pessoal, gosta de ser melhor, de fazer melhor, de dar o seu melhor. E, no meio de tanta distração, investe uma boa parte do seu escasso tempo livre nesse processo. Sorte a nossa que nascemos na era da informação e podemos ser melhores em todo o lado. No sofá. Na sanita. Às refeições. Tudo o que precisa é de um computador ou telemóvel, acesso à internet não é requisito mas é altamente valorizado, o abecedário dos podcasts do momento, os últimos artigos da mais alta evidência que credibilizem o seu discurso enquanto esperam pelo dia em que serão digeridos e devidamente integrados na sua prática diária, e-books ou os seus antepassados de papel, e algumas das notícias do dia para desbloquear conversas de elevador. Não há desculpa possível para não ser melhor. Só a preguiça, e essa livrai-nos dela, Senhora. Cansaço? Vitaminas. Dores de cabeça? Ben-U-Ron. Relações familiares? Simples: sentemo-nos todos à mesma mesa e partilhemos a alegria de ser melhores no grupo de whatsapp da família que tem mais vida que as plantas lá de casa.

The last but not the least: exercício. Corrida matinal às segundas, quartas e sextas intercalada com tareias de crossfit às terças e quintas. No final do dia: segundas aula de zumba, terças padel com a malta da empresa, quarta futebolada com os amigos, quinta padel com desconhecidos e sexta treino de bicípete num qualquer bar perto de si. Sábado é dia de trail e no domingo ninguém toca porque ao sétimo dia até O Maior descansou.

15 minutos de coragem, é tudo a que me proponho. Coragem para ceder ao ócio e à preguiça, para gastar o sofá, para adormecer encostada ao cão, para consumir ar em vez de informação, para ser rabugenta e mal-humorada, para falhar, para não fazer, para só estar. Para sentir.

ALERTA GIVEAWAY⚠️ estou a sortear os meus 15 minutos diários na minha pior versão. Para participarem só têm de taggar todos os seres maravilhosos que vos ajudaram ou incentivaram a construir a vossa melhor versão e dizer-lhes que isto não é um ataque pessoal. Comentem com o GIF mais cómico que viram nos últimos dias para que eu garanta a minha dose diária recomendada de humor e partilhem com a achetágue #aminhapiorversao. No entretanto, sejam felizes ?

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