quase na mão cheia

Viver a dois não é poesia,
e tem tudo menos monotonia.
Tem uma máquina de roupa para estender
porque amanhã vai estar dia de verão.
E dez pares de meias para dobrar,
sempre com um olho no fogão.

Tem também um documento partilhado
com a lista do supermercado.
E, todos os dias, tem para inventar
a ementa para o jantar.

No meio do carrossel de afazeres
o tempo segue na sua cadência,
e corre sempre para a próxima volta
sem cobrar com antecedência.

Por isso, há que ser ousado
e desenhar um plano detalhado
para o fazer abrandar:
pode ser de encontrão ou rasteira,
ou apresentar-lhe uma moça solteira,
para o deixar distraído.
É aí que a gente se vinga
e faz esticar o momento
num abraço apertado,
num olhar apaixonado,
ou naquele sorriso rasgado.
A escolha fica a cargo do leitor:
importante é que o amor
se mantenha alimentado.

______
para o melhor cúmplice de rasteiras ao tempo, euromilhões da minha vida,
Sr. Pedro-que-já-pica

One thought on “quase na mão cheia

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *