9 meses e 11 quilos

9 meses. Um feito. Dava para fabricar um novo humano.
11 quilos. Já não posso viajar no lugar de uma mala da Ryanair. Seria caso para me deixar um pouco deprimido, mas a verdade é que sinto que no último mês andei a correr mundo.

Tudo começou com a chegada do Carteiro da Pizza, que, na sua santa ignorância, se tinha esquecido de fechar a porta do prédio. Farejando a liberdade, esgueirei-me para a rua para aquela que seria a minha primeira grande aventura. Ele, roído de inveja, veio logo a correr atrás de mim e não descansou enquanto não regressámos juntos a casa. Acabei por abrandar o passo, para não ter que viver com o peso na cãonsciência de os ter feito comer a pizza fria. Cãotudo, depois deste grito de liberdade, seguiu-se uma linda jornada além fronteiras.

Ainda dentro de portas, Ela leva-me até Viena cada vez que se senta ao piano. Como ainda está a aprender e tem momentos um tanto ou quanto repetitivos, eu vou ladrando aos gatos que invadem o terraço na mesma escala, para não fazer comichão aos ouvidos mais sensíveis. Somos uns verdadeiros artistas, principalmente se conseguirem abstrair-se da parte da arte e se focarem na atitude. O certo é: não deixamos ninguém indiferente. Não é essa uma das infindáveis definições de arte?

A dez passos de distância, já no terraço, mergulhamos nos confins misteriosos da Amazónia. Outro dia apareceram-me em casa com um reforço generoso de novas espécies. Estou ansioso por prová-las a todas. Sempre ouvi dizer que as plantas têm um poderoso efeito medicinal, e eu sou um cão prevenido. Descansem, eu bem sei que nem só de plantas se faz a Amazónia. É por isso que, ‘vestindo a camisola’, enfio o focinho na terra e saio de lá com a ponta do nariz pintada. Não é uma pintura tribal perfeita – aceito – mas fica a lembrança que não é qualquer um que dá o focinho ao manifesto.

A alguns minutos de carro, um passeio pela praia de Matosinhos na hora de recolher do sol pode ser motivo para um misto de sensações.
Por um lado, o Hawaii em estado puro (as palmeiras encobertas pelo nevoeiro que levou o Sebastião), com os surfistas a domarem ondas enquanto eu arrisco o meu primeiro mergulho. Ele está eufórico, será o primeiro mergulho d’Ele também? Saí do mar sem perceber se quero repetir. A sensação de ter água por todos os lados não é bem a minha praia, mas pelo menos agora percebo como se sente uma ilha.
Por outro lado, as Cataratas do Iguaçu. Aposto que aquela água com dupla nacionalidade a cair no pêlo deve provocar a mesma sensação que uma onda a rebentar-nos mesmo à frente do focinho. Às vezes sinto que a adrenalina é sobrevalorizada.
Posto isto, manifesto a minha total disponibilidade para organizar viagens a qualquer canto do mundo, por apenas uma quantidade generosa de biscoitos e toneladas da vossa imaginação.

Até à dezena,
Buddha

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