5 meses

5 meses. Deve ser um marco importante este, porque Eles fizeram questão de me dar o meu primeiro banho há uma semana atrás. Ainda estou a tentar compreender o processo. Fiquei o mais quieto possível, a examinar cada detalhe, mas não consegui tirar muitas conclusões. Na verdade, tudo o que me ocorre são interrogações:

– Será que a água da chuva também pode sair morna?
– O que é aquilo que faz o meu pêlo transformar-se em espuma branca? Será o mesmo que o meu dono usa para ficar com a cara sem pêlo? Isso significa que devo temer pelo meu?
– Como é que as toalhas coexistem no mesmo mundo que o verbo sacudir?
– Que bicho é aquele que faz um barulho muito inconveniente e manda um bafo de ar quente? É por causa dele que tanto falam no aquecimento global?

Consigo farejar o vosso pensamento: mais uns banhos no pêlo e acabo a roer os livros de Filosofia da Biblioteca Municipal.

Tenho que perguntar aos meus novos amigos se lá em casa deles também existem estes rituais. Sim, ouviram bem, no espaço de um mês fiz 3 amigos: o Kiko, o Namaste e a Zuki. Confesso que não sou de aproximações fáceis. Na dúvida, ladro a todos de longe e fujo de todos de perto. Mas estes três, cada um ao seu jeito peludo, têm conquistado a minha confiança.

A Zuki foi a minha companhia quando tive que ficar uns dias sem Eles. E eu que achava que já sabia o que significava essa palavra tão portuguesa, a saudade. Espero poder ver a Zuki mais vezes, mas desta vez com Eles por perto. Estou a pensar sugerir levá-la um dia lá a casa. Almoço de família, petiscos para todos. Rodízio de maçã e cenoura. Acho que tem tudo para correr bem.

Agora sentem-se confortáveis – já aprenderam a fazê-lo, certo? – porque não vão acreditar no presente que eu recebi este mês! Melhor que os biscoitos de frango que já tive oportunidade de provar. Melhor que a minha cama nova, com duas portas, teto de abrir e estofos quase tão confortáveis como o sofá ou o banco de trás do carro d’Ele, onde já viajo all by myself. Agora que já me escovam o pêlo, estou com um certo receio que o próximo passo sejam inscreverem-me numa escola de inglês. Como cão que sou, está fora de questão fazer figura de urso, por isso já comecei a treinar. Mas chega de suspense que já passaram os Óscars e os homens dourados não servem nem para roer, que estragam o esmalte dos dentes: este mês tive um fim-de-semana inteiro a passear com Eles! Almoços na esplanada, corridas em campos verdejantes, feira de queijos e enchidos e longos passeios por uma aldeia com as casas todas iguais. É a isto que chamam de férias? Tenho uma ótima notícia então: sinto-me mais do que preparado para estar de férias todos os dias. Não subestimem os meus 5 meses, ou vou ter que vos contar em voz alta o número de bigodes que me saem do focinho? Até já sobrevivi à primeira carraça! É preciso saber dar a pata? Vamos a isso humanos, também já domino o gesto.

Sabem outra coisa que adoro? Esconder-me debaixo das mantas ou dos lençóis até não haver réstia de luz. Das primeiras vezes, Ela teimava em destapar-me o focinho, para eu respirar melhor. Acho que agora já percebeu que é só Ela que precisa de respirar e dormir virada para janela. Eu cá dou-me bem no escuro. E a dormir, a dormir dou-me ainda melhor. Mas já percebi que isso é de família, é da família Bocejo.

P.S. Acabei de celebrar o meu aniversário da forma mais criativa que encontrei: escavei um túnel naquela parede fofinha que está no meu quarto. Na próxima vez prometo que vos convido a tempo da festa.

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