uma divagação sobre as pessoas perfeitas

 

 

 

 

As Pessoas Perfeitas têm a vida perfeita, o marido/a mulher perfeita, os filhos perfeitos, os amigos perfeitos e a casa e o emprego perfeitos. Falam a língua perfeita, alimentam-se da forma perfeita, sorriem da forma perfeita.

Às vezes cruzo-me com estas pessoas. Estão, por exemplo, a almoçar ao meu lado, na mesa perfeita de um restaurante quase-perfeito. E é neste ambiente quase-perfeito em que nos cruzamos que dou por mim a pensar onde caberá a felicidade das pequenas coisas neste mundo perfeito. Porque elas também têm problemas, as pessoas perfeitas. Têm um ordenado quase-perfeito, porque a crise chegou a todos. Têm colegas de trabalho quase-perfeitos, membros de família quase-perfeitos. É uma chatice, que isto aconteça logo às Pessoas Perfeitas, com tanta gente no mundo.

Mas voltando às pequenas coisas. Será que as pessoas perfeitas dão gargalhadas espontâneas que se ouvem do outro lado da sala? Será que ficam com as calças sujas depois de se sentarem na relva? Será que falam alto quando se entusiasmam entre amigos? Será que se deixam lamber na cara pelo seu animal de estimação perfeito? Será que ficam com areia da praia nos pés? Será que algum dia sentiram o conforto de serem amadas por entre as suas perfeitas imperfeições? Terão nódoas negras de baterem nos seus móveis perfeitos? Restos nos dentes perfeitos depois de comerem azeitonas? Será que têm soluços num ritmo perfeito? Será que ficam rabugentas no meio da sua vida perfeita? Será que fazem beicinho?

Que robótico deve ser esse mundo, o das Pessoas Perfeitas.

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