o amor é simples

Podemos ter uma vida complicada, um trabalho complicado, uma agenda complicada. Podemos ter até um cabelo complicado, um familiar complicado, uma decisão complicada para tomar. Mas o amor, esse não há forma de o complicar.

O (meu) amor é tão simples que me dá a certeza que o melhor lugar para estar é ao teu lado. Todos os dias. Nem que seja um bocadinho só.

O (meu) amor é tão simples que não deixa que nenhuma despedida seja fácil. Por dois dias ou por duas semanas, não há forma de querer largar aquele abraço de até já.

És o meu amor simples. Descomplicado. O meu Porto seguro, a minha casa. O meu colo e o melhor dos aconchegos. O meu suspiro, o meu mar sereno. A minha pausa, o meu silêncio. O meu confidente, o meu amigo. O que me tira do sério e o que me arranca um sorriso quando já nem eu sabia como o resgatar. És as metáforas todas que ainda não fizeste, a paciência infinita para as minhas luas e trovoadas.

És tanto e tão simples assim,
amor.

mulher-montanha

Hoje conheci uma montanha. Forte, firme, sólida. Uma firmeza que parece ter sido construída ao longo dos anos. A solidez de quem já viveu ventos fortes, chuvas pesadas, mas se manteve erguida, determinada, resiliente. A força de quem fez braço de ferro com algumas tempestades e saiu vencedora. Com marcas, é certo. A erosão não perdoa. Nem mesmo a ela, personificação perfeita da expressão “força da natureza”. Contudo, não é a erosão que a define. Na verdade, aos meus olhos, ela é o mais bonito antagonismo que eu já conheci. A incrível simbiose entre força e delicadeza. Talvez ela não se aperceba, talvez não se reconheça nesse quadro. Mas quando olho, mais atenta, vejo caminhos de subtileza que me fazem pensar que o amor passou por ali muitas vezes, e de todas se demorou.

Esta montanha enche a sala, tal é a sua imponência. Mas, note-se, sem fazer sombra às demais. Pelo contrário, a sua luz é tão intensa e genuína que, quando o sol lhe aquece o rosto, as montanhas vizinhas brilham com outra intensidade. Dou por mim a querer sentar-me ali, num cantinho, parada no tempo, a contemplá-la.

A beleza desta montanha não cabe num retrato, numa imagem. Não está ao alcance do pintor mais talentoso, nem do fotógrafo mais experiente. A beleza desta montanha vive na sua essência. Na forma como se move, na segurança com que se expressa. Vive na personalidade vincada, nos rasgos de doçura, no seu sentido de humor tão próprio. Vive no charme de uma auto-confiança conquistada com as armas mais meritórias: esforço e dedicação.

Esta é, para mim, a verdadeira beleza de uma montanha.
Esta é, para mim, a verdadeira beleza de uma mulher.

só hoje, Mulher


Mulher, que tanto te cobras
só hoje, dá-te uma folga.
Baixa a guarda. Aceita.
Só hoje, não precisas de ser perfeita.
O mundo safa-se, por umas horas
enquanto tu te demoras
no capricho de, só hoje, não seres mil.
Apenas uma.
Apenas tu, em suma.

Mulher, que tanto lutas
só hoje, baixa os braços,
entrega-te.
Dá-te o descanso da resignação.
Amanhã é outro dia,
e essa guerreira que em ti mora
não há noite que a leve embora.
Ou pausa que a amanse.
Amanhã, feita a madrugada,
erguer-se-á, revigorada,
e com ela a sua missão.

Mulher, que tanto (te) dás
só hoje, aceita (de volta, sem volta).
O mimo. A ajuda. O cobertor.
O abraço que acalma a dor.
A preocupação de quem cuida,
os erros de quem se descuida.
Ou tudo o resto que por aí venha,
se por aí vier com amor.

encontros com o silêncio


 
No silêncio cabe a pausa.
Cabe uma respiração profunda. Um suspiro.
No silêncio eu só fico. E respiro.
No silêncio cabem as horas passadas
que voltam agora em câmara lenta.
No silêncio cabe um conforto. Uma paz que alimenta.
Cabe o espaço para sentir.
O tempo para interiorizar.
No silêncio as emoções têm onde se sentar.

No silêncio cabe tudo o que de bom
fora do silêncio não soubemos ser.
Cabe a outra perspetiva, a compreensão.
No silêncio cabe a entrega e a aceitação.

No silêncio cabem as memórias, e a saudade.
No silêncio cabe a terra fértil para a criatividade.

No silêncio cabe o autêntico, o verdadeiro.
No silêncio caibo eu, por inteiro.

amanhecer ao colo de um balão


O fogo, a luz da partida, fiel companheiro de viagem.
Um ligeiro sobressalto, que abafa um coração em excesso de velocidade.
O embalo do ar acolhe a subida, apneias e suspiros lutam pelo seu lugar em ataques de deslumbramento.
Planamos.
O sol acorda tímido, procura o seu caminho por entre nuvens teimosas. Aquece a face. Ilumina um olhar já radiante pelo entusiasmo de criança.
O silêncio.
Como é soberano o silêncio aqui.
Lá em baixo, terra e água,
elefantes que parecem formigas,
girafas que parecem formigas,
e o verde, o verde nas suas mil formas.
Um horizonte infinito, tal como o imaginamos.
O corpo abranda, como se quisesse acompanhar o ritmo do mundo visto das águas furtadas.
Bom dia Masai Mara. Bom dia África.
Deve ser isto, o paraíso.

HÁ RITA PARA ALÉM DA SAIA (até porque a saia já está mais que arredondada)

Rita vem do açoriano “ri-tâ” que significa “mulhé que sabe vivê e nã precisa de durmi”. E isto é a verdade verdadeira – se as outras Ritas não se identificam é provável que alguém lhes tenha escolhido o nome errado.

A (minha) Rita é também sinónimo de produtividade. É muito difícil apanhar a Rita a desperdiçar tempo. Ou ela está a usar o tempo para ser a melhor naquilo que faz, ou está empenhada a usar o tempo para ser a melhor naquilo que não faz. A Rita é a rainha soberana das hormonas e do ócio, e esse duplo reinado poderá ser uma das explicações para este exemplar de génio andante passar despercebido no mundo das pessoas comuns.
A Rita é, por isso, a escolha segura para um casamento com a vida. Na saúde e na doença, no sofá e no ginásio, em viagem ou em inércia, a Rita será sempre uma boa companhia. Se descobrirem alguma coisa que esta moça não faz bem, o Jumbo devolve o dinheiro. O mais provável é que ela já a tenha descoberto primeiro e entretanto a tenha superado com estilo: agarrada a um apara-quedas (como é que este não é o nome certo?!) ou frente a frente com uma senhora cascata.

A (minha) Rita é também sinónimo de resiliência. Quando o universo precisa de atenção, decide pregar umas partidas à Rita. Mas a Rita tem a força do mar revolto e acaba sempre a surfar a onda com o universo ao colo. Entretanto o universo rende-se e dá-lhe uma noite estrelada no deserto ou um pôr do sol no mar. E a vida continua, suave, com o mar também sabe ser.

Não sei o que o universo tem reservado para a Rita, mas sei que esta moça vai dar muito que falar. E se ele aprontar das suas, vai acabar a dançar samba com ela. Eu por cá estarei, orgulhosa, a garantir que ela mantém o seu disfarce de pessoa comum ou que não é raptada e exilada em troca de milhões oferecidos pelo balcão de reclamações da TAP.

Parabéns Rita,
O universo que se prepare para mais um ano ao teu colinho.

quando for grande quero fazer mais perguntas

 

 

 

Se eu tivesse que escolher o pecado mortal com que mais me identifico não havia espaço para grandes hesitações: a preguiça. Mas, de quando em quando, a inveja faz-me umas visitas.

Nos últimos dias tenho tido o privilégio de ouvir profissionais da(s) minha(s) área(s) de interesse a partilhar ideias, conhecimento, paixões. Pessoas realmente inspiradoras. Aquele tipo de pessoas que te faz ambicionar um dia chegar aos seus cavados poplíteos (porque chegar aos calcanhares não seria ambição). Aquele tipo de pessoas que te tira o tapete, te faz questionar o pouco que achas que já sabes, te faz pensar que vais demorar três vidas a começar a ter algumas certezas. Aquele tipo de pessoas que te ficam na cabeça porque tocam nas tuas inseguranças, nas tuas fragilidades, nos teus sonhos. E, sem saberem, te desafiam com o seu discurso inspirador. Aquele tipo de pessoas que faz perguntas inteligentes. Que pensa fora de todas as caixas. Isso é o que eu mais invejo: pessoas que fazem perguntas. Se eu já fui uma delas, acho que esse talento não sobreviveu à idade dos porquês. Pessoas que fazem perguntas abanam o mundo, fazem com que ele gire com mais charme. Pessoas que fazem perguntas fazem a diferença. E como eu as invejo.

A todas elas, deixo o meu profundo agradecimento.
Por abanarem o meu mundo.
Por terem contribuído para muitas das (poucas) respostas que hoje tenho.
Por terem aprendido a partilhar o corpo com uma cabeça que não pára de questionar. Fazer perguntas cansa, imagino eu.
Obrigada por me fazerem estas rasteiras e me obrigarem a levantar e continuar a jogar a bola para a frente, com ainda mais vontade.
Obrigada por me tirarem o sono. Por serem a minha adrenalina e a minha frustração. Por serem a minha mudança.
Quando for grande talvez também eu faça perguntas.

a minha pior versão


Olá, chamo-me Diana, e assumo hoje, publicamente, a minha vontade de dedicar 15 minutos diários a construir a pior versão de mim. A contar a partir de amanhã, principalmente se for Natal, feriado, ou o jantar excepção da semana (ou qualquer outro inimigo da dieta que consigam imaginar agora).
15 minutos por dia em 24 horas parece um desafio plausível, uma promessa aparentemente atingível mesmo para o mais experiente político. Mas não ignoremos as armadilhas, portugueses e portuguesas. Ou portuguesas e portugueses, se fizer diferença para alguém.

Apresento a primeira, que o preço do tempo por estes dias consegue cortar a meta umas quantas voltas antes do preço dos combustíveis. Dormir. 8 horas de sono necessárias para que o meu cérebro (e provavelmente o vosso, se decidiram viver a vossa vida ao lado de um) não entre em greve no dia seguinte. Pelo menos não durante este mandato, já todos percebemos que esse não parece ser o caminho mais eficaz para a negociação.

Seguimos com um pequeno almoço mais colorido que o anúncio de abertura da SIC nos anos 90 (então gritei, aconteceu!!), variando no cereal protagonista porque o futuro é a diversidade, e, se estiver de chuva, adicionar uns frutos secos que contam como contributo matinal pelo equilíbrio natural. Findo o investimento de 50 minutos na preparação e ingestão da primeira refeição do dia, convém apressar o banho porque isto de sentir a água a cair na pele ao som de uma canção aleatória até embaciar o espelho da casa de banho é um capricho que não pode ser cultivado ou corremos sério risco de criar humanos ociosos e fenómenos de humidade habitacional em larga escala. Já para não falar que escrever palavras espontâneas em vidros embaciados é compatível com um nível intolerável de infantilidade. Especialmente se forem dedicatórias de amor. Para terceiros. O amor-próprio está na moda e devemos praticá-lo todos os dias: 3 minutos de elogios enquanto escovamos os dentes, pausa para bochechar, mais três minutos de silêncio para que o mundo tenha oportunidade de nos agradecer antecipadamente pela nossa autenticidade e existência. Mãe, Pai, nada pessoal, mas no final de contas quem decidiu nascer fui eu.

O próximo passo será tão mais demorado quanto mais desatualizados estiverem em relação à coleção primavera-verão do ano corrente. Não esquecer de verificar a previsão meteorológica para fazer pandam com a indumentária. Em dias de nevoeiro apostar nas cores garridas de forma a evitar choques em cadeia com os telemóveis com quem se cruzar a caminho do trabalho, que, cada vez menos tímidos, têm saído à rua para passear pessoas.

Um dia de trabalho normal. Alguém a querer que dê o seu melhor, que faça melhor, que seja melhor. Na melhor das hipóteses, pelas melhores razões. Pode também dar-se o caso de pertencer aquela classe louca de profissionais que, por brio pessoal, gosta de ser melhor, de fazer melhor, de dar o seu melhor. E, no meio de tanta distração, investe uma boa parte do seu escasso tempo livre nesse processo. Sorte a nossa que nascemos na era da informação e podemos ser melhores em todo o lado. No sofá. Na sanita. Às refeições. Tudo o que precisa é de um computador ou telemóvel, acesso à internet não é requisito mas é altamente valorizado, o abecedário dos podcasts do momento, os últimos artigos da mais alta evidência que credibilizem o seu discurso enquanto esperam pelo dia em que serão digeridos e devidamente integrados na sua prática diária, e-books ou os seus antepassados de papel, e algumas das notícias do dia para desbloquear conversas de elevador. Não há desculpa possível para não ser melhor. Só a preguiça, e essa livrai-nos dela, Senhora. Cansaço? Vitaminas. Dores de cabeça? Ben-U-Ron. Relações familiares? Simples: sentemo-nos todos à mesma mesa e partilhemos a alegria de ser melhores no grupo de whatsapp da família que tem mais vida que as plantas lá de casa.

The last but not the least: exercício. Corrida matinal às segundas, quartas e sextas intercalada com tareias de crossfit às terças e quintas. No final do dia: segundas aula de zumba, terças padel com a malta da empresa, quarta futebolada com os amigos, quinta padel com desconhecidos e sexta treino de bicípete num qualquer bar perto de si. Sábado é dia de trail e no domingo ninguém toca porque ao sétimo dia até O Maior descansou.

15 minutos de coragem, é tudo a que me proponho. Coragem para ceder ao ócio e à preguiça, para gastar o sofá, para adormecer encostada ao cão, para consumir ar em vez de informação, para ser rabugenta e mal-humorada, para falhar, para não fazer, para só estar. Para sentir.

ALERTA GIVEAWAY⚠️ estou a sortear os meus 15 minutos diários na minha pior versão. Para participarem só têm de taggar todos os seres maravilhosos que vos ajudaram ou incentivaram a construir a vossa melhor versão e dizer-lhes que isto não é um ataque pessoal. Comentem com o GIF mais cómico que viram nos últimos dias para que eu garanta a minha dose diária recomendada de humor e partilhem com a achetágue #aminhapiorversao. No entretanto, sejam felizes ?

a gente e as coisas da gente

A gente inventa e se reinventa
Corre, cansa e levanta de novo.
A gente esperneia, reclama com o povo,
Culpa, se desculpa,
Quase desiste.
Mas volta e tenta. Insiste.
Procura arrumar num só dia
Os afazeres de todo o mês
E de hora em hora suspira.
E diz que faz diferente na próxima vez.

A gente tem tanto que já conquistou,
Mais outro tanto que o mundo traz por defeito.
Mas na volta, se veste de bicho insatisfeito,
e encontra sempre algo em falta,
para chegar ao quase-perfeito.
Mal não tem,
Se o caminho for pelo bem.
A gente só não pode esquecer
Que, no fundo, isto de viver
Não tem muito de complicado,
E cabe numa frase só:
Amar, e ser amado.

(aqueles dias em que a tua inspiração chega com sotaque do Bráziu)

o presente

Já lá vão 11 dias desde que completei as minhas 30 primaveras. Ou invernos, se quisermos algum rigor. E foram precisos 11 dias para que me apercebesse como me sentia em relação a esse número simpático. Há 3 anos rabisquei num guardanapo 10 coisas que gostava de “conquistar” para mim até chegar aos 30. Hoje, o guardanapo sorriu para mim. E segundos depois eu sorri de volta ao perceber que deixei apenas uma por cumprir. Espero conseguir manter as outras 9 comigo uns 30 anos mais. O meu corpo ia agradecer. Especialmente na parte que diz “Dormir mais. Mesmo.”

E aí têm, num parágrafo apenas consegui mergulhar no passado e emergir no futuro. Há pouco, enquanto os meus dedos se entretinham nas teclas do piano, dei por mim a pensar quão ténue é este “equilíbrio” de viver, sentir e aproveitar o momento presente sem, no entanto, deixar esmorecer a vontade de fazer planos para o futuro? Quanto tempo estarei eu a roubar ao presente para planear o que ainda não chegou? Assim sem grandes modéstias eu diria: bastante. Essa sou eu. Eu e o hobby preferido do meu cérebro: planear, imaginar, construir. Não nos condeno. Somos otimistas chapados por defeito. E não temos muito talento para estar parados, ou para esperar que a vida aconteça. Adoramos surpresas, claro. Mas nos intervalos gostamos de nos manter ocupados a tentar ser um pouco melhor, viver um pouco melhor, fazer um pouco melhor. Às vezes não apetece, é verdade. Às vezes não queríamos sentir que depende tanto de nós. Ser adulto é para gente grande, e às vezes só queríamos ser pequeninos outra vez. Mas temos este pressentimento que não saberíamos ser de outra forma. Ainda assim, sentimos que esse será o nosso grande desafio, talvez maior que os 10 que o guardanapo guardou: fazer mais pausas no presente. Só estar. Só ser. Só sentir. “Regar as Pausas”, como ouvimos recentemente de alguém que tanto nos inspira. Mais do que uma vez ao dia, se possível. Esse será, sem dúvida, um bom presente para estes e para os próximos 30. E o maior dos desafios.

A parte boa: não estamos sozinhos. Temos na nossa vida pessoas lindas (e um Buddha orelhudo) que nos devolvem o presente e nos ajudam a regar as pausas em cada (re)encontro. Obrigada pessoas lindas. Têm sido 30 invernos muito quentinhos e felizes.

Até breve,
Diana Bocejo
e os seus sweet 30 (mas não tão sweet como os 29 porque entretanto devo ter batido com a cabeça e decidi começar a tomar café SEM açúcar)