3 ANOS DE EXPERIÊNCIA(S)


 

Olá pessoas,
Parece que é verdade aquele clichê que se ouve em cada 11 de 10 conversas aleatórias entre humanos: o tempo voa. (Pausa para um suspiro vosso). É ele e as pombas, que por mais discreto que eu seja nunca se deixam apanhar. (Pausa para um suspiro meu). Tudo isto para vos dizer, de forma quase subtil não fosse agora esta frase descarada, que cheguei aos 3 anos de idade. (Pausa para onomatopeita vossa, mais ou menos prolongada, dependendo do nível de admiração ou do vosso volume de reserva expiratório).

Olhando em retrospetiva, este último ano foi o equivalente a alguém ter assaltado a Fnac (fica a publicidade que, em boa verdade, poderia ser retribuída com um exemplar do álbum dos Ornatos que exclama a minha espécie) e ter deixado cair a coleção de experiências da LifeCooler (ou da Odisseias, caso não sejam adeptos do frio) à minha porta enquanto fugia. Ora como o ditado diz que “achado não é roubado”, eu fiz-me cão e decidi aventurar-me em testá-las, já que dizem que para currículo os anos de experiências é que contam. Se quiserem puxar do moleskine, aqui fica material para tirar nota:

1. NOITE DE CAMPISMO A TRÊS
Uma experiência terapêutica para quem tem dores de costas porque segundo os especialistas faz bem dormir no chão.
Para aperitivo, uma pequena demonstração de como montar uma tenda de noite no menor tempo possível antes que apaguem as luzes de presença. Ideal para quem gosta de desportos em contra-relógio mas não é adepto do ciclismo porque faz doer o cóccix. Com a vantagem adicional de poder usar a camisola amarela sem critério porque será sempre uma ajuda na visão noturna.
Aconselha-se um agasalho quentinho para adormecer, atendendo que, meus amigos humanos, estações de confiança hoje em dia… c’adelas?
Como Eles se esqueceram do meu saco-cama, dei um cãopasso de espera para entrarem em sono profundo e esgueirei-me da minha manta para o saco-cama d’Ele. Para mim que gosto de contacto humano como história de embalar, foi tipo o frango no topo da ração. Recãomendo.

2. FIM DE SEMANA DE MUDANÇAS
Para quem procura uma experiência anti-mainstream, esta é a oportunidade ideal para, num único fim-de-semana, desenvolver as suas soft skills e hard skills (porque empacotar caixas até é soft, mas carregá-las é um hard que lhe deu) enquanto oferece ao seu corpo várias horas de treino funcional com enfoque na musculatura flexora dos membros superiores, mas sem descuidar as pernocas no sobe e desce escadas para o primeiro andar. Se pretender levar o treino a um outro nível, é possível realizar um circuito por toda a escadaria do prédio com a caixa em braços antes de entrar no apartamento certo. Escadas com altura ideal para subir de duas em duas sem manchar as caixas com o sangue de um nariz partido.
Esta foi, para mim, uma experiência especialmente marcante, porque no meio de tanta caixa ninguém se lembrou de empacotar os vizinhos da frente e do prédio ao lado, e isso é coisa para um animal sentir falta. Mais as horas que investi a tentar desenvolver uma relação de mutualismo com a gata que tem nome e manias de pedra preciosa para ela agora ficar com o império de pata beijada. Mas eu cá me safo. A casa nova não é má de todo, só precisa de uns ajustes nas portas mas eu já me voluntariei. Ajuda a passar o tempo e mantém-me as unhas limadas.

3. SESSÃO FOTOGRÁFICA INDOOR
Sem planos para dias encobertos ou de chuva? Sem stock de fotografias para as redes sociais? Sem saber como usar a máquina fotográfica que lhe custou um ordenado sem ser em modo automático? Esta é a experiência para si. Entregue-se às mãos de um profissional e desfrute da oportunidade de testar os trinta e sete sorrisos diferentes num ambiente que não lhe podia ser mais familiar: a sua casa. A experiência fica ainda mais emocionante se estiver prestes a vendê-la e houver valor sentimental associado. O fotógrafo dá-se muito bem com animais e, segundo parece, também não tem medo de humanos. Eu sei, não há muitos assim. Posso enviar o contacto por pombo correio, desde que em troca do correio eu possa ficar com o pombo. Nada pessoal, os entendidos é que dizem que a carne branca faz melhor à saúde.

Para outras perspetivas sobre as experiências 2 e 3, podem consultar os escritos d’Ela aqui: http://pontocinco.pt/2019/08/26/a-primeira/

4. POOL PARTY ANIMAL
Party animal sim, podia ser eu. Na pool é que já não é verdade. Mas tentei. Superei-me. Estavam lá todos e eu não queria ficar a ver. Entrei. Saí. E voltei a entrar. Por momentos quase que me esqueci da sensação de ter as patas molhadas quase até à barriga. E vocês sabem bem como custa quando vem aquela onda que molha a barriga. A sorte é que na piscina não há ondulação. Esta não é daquelas que me vão ouvir a recãomendar. Mas posso garantir-vos que alguns dos meus companheiros de espécie estavam quase com o mesmo olhar de satisfação que eu imagino em mim sempre que penso numa bola de ténis. De modo que, se vos apraz, é tentar a sorte. A experiência poderá ser especialmente útil se a vossa autarquia cobra a água ao preço do linguado inviabilizando o banho humano diário.

Dito isto, isto dito, acãobou-se a história dos dois até aos três.
Com tanta experiência, estou a ponderar convencê-los a abrir-me conta no Linkedão para ver se ganho uns trocos com trabalho honesto.
Isso ou abro conta no insta que isto já dá material que chegue para me tornar um verdadeiro cãofluencer. Imaginem lá, conhecer as últimas modas em ossos, testar os novos sabores de biscoitos, viagens patrocinadas ao Grand Slam com oferta de um saco de bolas de ténis. Estou a delirar eu sei. No fundo no fundo, eu só quero é fazer uma pata-de-meia para Eles não terem que trabalhar mais e podermos ficar juntos a toda a hora, noite e dia. Já dizia o Gedeão: o sonho cãomanda a vida.

Melhores cãoprimentos,
Buddha.

2 anos de buddha

Olá pessoas.
Hoje faço dois anos (já o donuts amarelo que recebi de prenda não vai poder dizer o mesmo, paz à sua alma agora sem apito).

Dois anos em vida de cão dá para ganhar algum estatuto. A minha personalidade está apuradíssima, daquelas de se abanar a cauda. Ele e Ela, por seu lado, continuam tão apaixonados por mim como no dia em que me foram buscar, de modo que a vida vai-me correndo bem.

Acumulei algumas cãoquistas ao longo deste último ano. A primeira secção é a dos petiscos. Finalmente posso dizer que conheço pelo menos 1/3 da roda alimentar: já experimentei legumes cozidos, frutas variadas e arroz, isto sem contar com as amostras de pecados que alguém vai largando perante a minha resiliência na hora da refeição dos outros. O barulho de um pacote de bolachas a ser aberto é inconfundível, por exemplo. Mas nem tudo são caprichos. Também como sopa. Menos quando a servem muito quente, aí fico só a olhar e a ladrar para ela. Quem sabe sob pressão arrefeça mais rápido.

Tenho também feito progressos notáveis na minha forma de comunicar. Já não ladro só. Agora faço tentativas de palavras, com diferentes entoações, e alguns rosnares pelo meio. Pela empatia, tudo.

Encontrei, entretanto, uma bola perfeita para mim. Todos achavam que a nossa relação não ia durar mais que dois dias. Mas ela tem um feitio de gancho. Não consigo furá-la por mais tente. Decidi, por isso, adotá-la, tal como eles fizeram comigo. Dizem que o karma não dorme, talvez assim ele me recompense e eu ganhe a montra final dos biscoitos.

Cresci um pedaço nestes meses, o que me complicou seriamente a arte do disfarce. 8 em cada 10 vezes que me tento esconder no meio de uma colcha ou manta acabo por ser descoberto por deixar sempre algo de fora. Estou a pensar pedir à Safira umas tutoriais sobre a técnica da invisibilidade. Sei bem que ela a domina, porque muitas vezes cãosigo cheirá-la mas não encontro o raio da gata em lado nenhum. Acho que podemos chegar a um acordo vantajoso para ambas as patas. Ela dá-me umas aulas, e em troca eu deixo-a fazer contacto direto para o meu terraço uma vez por semana durante 15 segundos. Depois disso, sou obrigado a ladrar, está na minha natureza canina.

Nos meus passeios ao ar livre, já sobrevivi a amontoados de água que parecem super apelativos para humanos mas nada tentadores para mim. Por outro lado, para que não se diga por aí que sou avesso a novas experiências, levei a cabo, muito recentemente, o meu primeiro xixi de pata alçada. A árvore não se queixou e eu não fiquei todo salpicado, pelo que considero que foi uma experiência bem sucedida. Cãotudo, não fiquei fã. Demasiada exposição ao nível dos países baixos para um cão tímido como eu.

Por último, mas não menos importante, o mais novo mudou-se cá para casa há quase dois meses. Ainda estou a aprender a partilhar o sofá com mais um, mas pelo menos ele alinha em corridas circulares por tempo indeterminado entre a cozinha e sala. Estava a baixar o meu nível de desempenho cardiovascular à custa daqueles dois velhotes, nada como sangue novo para retomar recordes. E a verdade é que eu nunca fui muito bom nisto das saudades, por isso tenho especial apreço por este conceito de objeto presente.

Enfim, contemplando a primeira foto minha de que há registo (à esquerda), parece-me inquestionável concluir que a idade me está a fazer bem (a outra esquerda). O segredo? Não posso partilhar. Mas isto de cãoviver com pessoas que gostam tanto tanto tanto de mim que às vezes até dá comichão deve ter o seu quê de rejuvenescedor.

a primeira volta ao sol

Amigos, escrevo-vos hoje com a experiência de vida de quem completou a primeira volta ao sol e algumas das etapas do circuito desportivo do parque do fontelo. Sobre o último, fica a adenda que são necessárias ainda algumas adaptações para a espécie animal. Cãotudo, o manto de folhas de outono que envolvia todo o cenário foi, sem dúvida, um tiro certeiro no campeonato da decoração.

Tendo completado 12 meses de vida, aguardei pacientemente que me levassem ao veterinário para uma consulta de desenvolvimento. Eu sinto-me bem, é certo, mas já tenho saudades dos biscoitos deles, e um check-up vem sempre a calhar. Sou apenas um cão prevenido, não uma girafa hipocondríaca (mas sempre com pinta, Melman). Em vez disso, Eles ofereceram-me um presunto feito de espuma que guincha cada vez que o trinco. Quem é que compreende estes humanos? Creio que a ideia da espuma é uma alternativa saudável para não arriscar os meus níveis de cãolesterol, mas de forma alguma eu conseguiria comê-la. Em vez disso, espalhei-a pelo chão da casa em menos de meia hora. Sempre fica mais aconchegante em caso de queda ou derrapagem.

Não havendo sinais da tal consulta, decidi investigar por mim os marcos de desenvolvimento esperados para o primeiro ano de vida.

DESENVOLVIMENTO MOTOR

“Consegue mover os braços e as pernas coordenadamente.”
Com a devida correção na linguagem, considero plenas as minhas funções de coordenação entre patas traseiras e dianteiras.

“Muda de posição facilmente.” Check.
“Já consegue estar de pé sozinho.”
Check: em pontas e por alguns segundos quando devidamente incentivado.

“Senta-se sozinho.” Check.
“Levanta-se momentaneamente e cai.”
Não costumo cair, atiro-me propositadamente para o chão, mas penso que deve servir.

“Prepara-se para ser independente e dar os primeiros passos; dá dois ou três passos sozinho sem cair.”
Fácil, faço-o desde que me conheço. Até já andei de metro duas vezes, já que falamos de independência. Começo a pensar que esta fonte de informação não é fiável.

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

“Manipula pequenos objetos e “ferramentas” simples com destreza. Aprende explorando, experimentando e interagindo com o meio envolvente.”
Seria bom especificar o conceito de destreza. Agarrar um brinquedo no meio dos dentes enquanto tento chutar uma bola de ténis com a pata serve? Em relação ao meio ambiente, atinjo diariamente o meu expoente máximo de exploração e interação ao cavar o sofá em busca de um tesouro. Ultimamente com mais vontade e certezas, desde que assisti com Eles ao Pirata das Caraíbas 5.

“Começa a auto identificar-se, a ter consciência de si próprio, e do seu corpo.”
Olá, sou o Buddha, O cão. O meu corpo é peludo, colorido e com uma mancha branca no dorso que me dá mais pinta que ao George Clooney. Tinha outra na ponta da cauda, mas está reduzida a 4 ou 5 pêlos, só para os mais atentos.

“Reconhece que os objetos são permanentes e que as pessoas continuam a existir mesmo quando não os consegue ver.”
Já sei, já sei. Eles saem mas continuam a existir, e voltam sempre para mim. Mas qual é a utilidade de aprender isso? É tão melhor quando estamos juntos, porque não deixar que seja assim a toda a hora? Pensem nisso com carinho, por favor.

DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

“Comunica através dos sons, gestos e expressões faciais.” Check, check, check.

“Presta cada vez mais atenção quando falam com ele. Pode responder com palavras com algum significado.”
É verdade, estou mais atento. Mas cãofesso que estou também cada vez melhor na arte de me fazer de desentendido. Biscoitos ajudam a manter a minha atenção, fica a dica. Tudo o que eu digo tem significado, eles é que ainda não aprenderam a minha língua. Mas estamos a fazer progressos, sejam pacientes.

“Responde a perguntas simples. Usa gestos simples como abanar a cabeça para dizer “Não”.”
O meu gesto de negação é tão simples como ficar imóvel. Ou, no extremo oposto, fugir d’Eles em corridas circulares à volta da casa. Em qualquer um dos casos, parece-me que passo a mensagem de forma bastante clara. O azar é que Eles conseguem ser mais teimosos do que Eu.

DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL

“Imita gestos e começa a compreender a relação causa/efeito das coisas (compreende, por exemplo, que se abanar um brinquedo produz ruído).”
Tenho nota máxima nesta arte da causa/efeito. Sou uma espécie de manipulador de emoções. Mas não vamos demorar-nos muito por aqui, que Eles não vão achar piada a esta.

“Alimenta-se com as mãos. Consegue agarrar uma colher e levá-la à boca.”
Segundo as regras de etiqueta e boas maneiras, não é de bom tom comer com as patas. Consigo agarrar uma colher com os dentes, levá-la à boca seria redundante.

“Explora os brinquedos de formas diversas. Já encontra os objetos escondidos facilmente.”
Roer, abanar e esventrar são 3 das minhas formas diversas de explorar brinquedos. O jogo das escondidas está para o meu faro como o peixinho está para os adultos que jogam cartas.

DESENVOLVIMENTO SOCIAL

“Tem vergonha e timidez face à presença de pessoas estranhas.”
Às vezes vou um pouco mais longe e ladro. Nada contra elas, mas se não aproveito para me exaltar aí vou fazê-lo quando? A vida precisa de um pouco de emoção, minha boa gente.

“Sente-se seguro na presença dos pais ou das pessoas com quem convive frequentemente.”
Mais do que seguro, feliz. Tenho uns pais do cãoraças.

11 meses

Dediquei grande parte do último mês a estudar o céu. Tenho, por isso, algumas cãosiderações que gostava de partilhar convosco.
Sendo muito pragmático e frontal, a pergunta essencial que se coloca é: Porque é que os cães não podem voar? Quem decide o critério?

Aprofundemos a questão:
As nuvens, são fofas, e voam. Aceito.
As moscas, são chatas como as moscas, e voam. Qual é a lógica afinal?

O sol, é amarelo, e voa. Compreendo. Ninguém gosta do amarelo. Quiseram dar um trunfo extra ao sol.
O limão, é ácido, tem casca, tem pevides, e não voa. E ainda o usam para fazer lengalengas para bêbedos. Em que é que ficamos afinal? Um limão? Meio limão?

Mas há mais. Falemos dos gatos, que passam o dia a voar de telhado em telhado. Quantos genes de independência têm eles? Há inclusivamente rumores que o brexit foi ideia de um gato. E o mundo, ainda assim, deu-lhes a independência máxima na categoria de meio de deslocação.

As gaivotas, ainda dou de barato. Aqueles agudos aleatórios repelem qualquer ideia de domesticação. Além disso sofrem de incontinência fecal, que faz com que tropecemos nos seus dejetos mais depressa que num dos controladores de estacionamento dos parquímetros do Porto. Mas é preciso não esquecer que elas têm acesso privilegiado aos contentores do lixo. Já eu, só de chegar perto, sinto-me logo absorvido por um daqueles olhares de reprovação. Não me parece justo.

E depois, há todo o negócio dos aviões. Cruzam os céus a toda a hora e fazem mais barulho que a voz fantasma do metro do Porto (Sim, é verdade, andei pela primeira vez, foi tão assustador como seria expectável para uma atividade radical desta dimensão, sobrevivi, não tenciono repetir. Obrigada por perguntarem. Adrenalina sim, mas de preferência servida no prato, intercalada com cenoura, maçã ou courgette). Este mês, foi vê-los a exibirem-se céu acima, céu abaixo, em jeito de provocação para connosco, criaturas terrestres a quem ninguém deu um dia a escolher o tipo de relação que gostaríamos de manter com a Dona Gravidade.

Até a minha bola de ténis, imagine-se, consegue voar quando lhe dão um incentivo. Não me façam esse olhar, é óbvio que não estou a falar de quando Ele ou Ela a atiram para o ar. Aí até eu voo um bocadinho para a agarrar. O incrível é que mesmo quando a atiram direitinha para o chão, a bandida ergue-se de volta no ar sem me dar tempo de analisar o gesto técnico. E mesmo quando me decido a agarrá-la para lhe amparar a queda, não retorna a gentileza com uma dica que seja. Podia pelo menos dizer-me quem é que a treinou. É que o meu faro diz-me que não me safo com aqueles dois, tendo em conta que as primeiras coisas que me ensinaram foi a sentar e a deitar. Tudo a favor da gravidade, convenhamos. Pergunto-me se ainda vai chegar o dia em que os ouço dizer: “Buddha, voa”. Aí sim, ninguém me apanhava quieto. Era ver-me a entrar para a história como o primeiro cão a sofrer do Síndrome Marcelo.

Até à dúzia,
Buddha.

10 meses. Duas Patas Cheias.

10 meses. Dois dígitos. Duas patas cheias. Pela lógica, deveria ter direito ao dobro da comida e dos biscoitos. Mas Eles ainda não chegaram a essa página do livro.
Cãotudo, não vamos confundir este número com um estado protoadulto. Não sei se estou preparado para crescer, na verdade. O meu pêlo continua suave e luzidio como no mês em que ainda estava a aprender o meu nome. Quanto mais me dou com brinquedos, mais aprecio a companhia deles. Aqueles dois continuam a falar comigo como se estivessem a falar com uma criança. Já para não falar que apanham os meus cocós. Estou certo que só não me trocam a fralda porque não sou grande fã dessa indumentária. Mas respeito todas as modas, não me interpretem mal.

E depois há aquela minha paixão pelos jogos tradicionais.

Adoro jogar à Macaca, por exemplo. Os restos dos meus ossos são a pedra perfeita, têm uma ótima aerodinâmica. Só ainda não aprendi como desenhar linhas num chão de madeira. Podia tentar com as unhas, mas isso faria com que andassem sempre limadas, e não quero pôr em causa a minha masculinidade.

O Macaquinho do Chinês (será que fugiu da loja aqui da rua?) é dos que mais jogo com Ele e com Ela. Mas temos a nossa própria linguagem: em vez daquela cantiga toda “1, 2, 3 Macaquinho de Chinês”, eles simplificam com “Buddha, fica.” Mal eles viram costas, é ver-me a conquistar terreno mais depressa que o Afonso Henriques.

Quando chega a hora de dormir, temos uma variação do jogo das Cadeiras. Quando o despertador noturno toca, o último a chegar à cama fica com o pior lugar. É um jogo de uma ronda só. É por isso que, na maior parte dos dias, o combino com o jogo das Escondidas. Sou quase sempre eu a esconder-me debaixo dos lençóis. Não é o esconderijo perfeito, cãofesso, eles não demoram muito a encontrar-me. Mas Ela deve sentir que tem potencial, porque há dias em que logo depois de me encontrar se esconde exatamente no mesmo sítio. Só faltava fazê-lo quando eu não estou claramente a olhar para ela, se não qual é a piada? Estes humanos e a mania de não lerem as regras dos jogos até ao fim.

Por fim, o jogo da Estátua. É o meu preferido. Jogamos normalmente duas vezes ao dia, de manhã cedinho e ao entardecer. É uma espécie de ritual de celebração que antecipa o nosso passeio à rua. Como é difícil combinar uma palavra de código com eles, decidi que o momento de congelar seria na altura em que me pusessem o peitoral. Para acrescentar alguma magia ao ritual, começo por me atirar para o chão mal eles pegam nele. Segue-se um momento de relaxamento máximo em que deixo o meu corpo mais pesado que um saco de batatas-doces do tamanho das que nascem no quintal de Viseu. No momento em que se ouve o clique do fechar do peitoral, o jogo atinge o auge. Congelação máxima, todo eu serviria para arrefecer cervejas antes de uma boa jantarada. Depois é só esperar que eles me arrastem porta fora. As irregularidades do chão de madeira dão uma ótima massagem na barriga. Ou às vezes nos flancos, dependendo do ângulo em que me apanham. O jogo termina quando chegamos às escadas, por razões óbvias: apesar de criança, fui brindado com uma excelente capacidade de avaliação do perigo. E algo me diz que um “peso morto” a descer duas patas-cheias de escadas seguidas não dava um jogo engraçado. Uns bons hematomas, talvez. Terá sido assim que nasceu o jogo do Galo?

A caminho da capicua,
Buddha.

9 meses e 11 quilos

9 meses. Um feito. Dava para fabricar um novo humano.
11 quilos. Já não posso viajar no lugar de uma mala da Ryanair. Seria caso para me deixar um pouco deprimido, mas a verdade é que sinto que no último mês andei a correr mundo.

Tudo começou com a chegada do Carteiro da Pizza, que, na sua santa ignorância, se tinha esquecido de fechar a porta do prédio. Farejando a liberdade, esgueirei-me para a rua para aquela que seria a minha primeira grande aventura. Ele, roído de inveja, veio logo a correr atrás de mim e não descansou enquanto não regressámos juntos a casa. Acabei por abrandar o passo, para não ter que viver com o peso na cãonsciência de os ter feito comer a pizza fria. Cãotudo, depois deste grito de liberdade, seguiu-se uma linda jornada além fronteiras.

Ainda dentro de portas, Ela leva-me até Viena cada vez que se senta ao piano. Como ainda está a aprender e tem momentos um tanto ou quanto repetitivos, eu vou ladrando aos gatos que invadem o terraço na mesma escala, para não fazer comichão aos ouvidos mais sensíveis. Somos uns verdadeiros artistas, principalmente se conseguirem abstrair-se da parte da arte e se focarem na atitude. O certo é: não deixamos ninguém indiferente. Não é essa uma das infindáveis definições de arte?

A dez passos de distância, já no terraço, mergulhamos nos confins misteriosos da Amazónia. Outro dia apareceram-me em casa com um reforço generoso de novas espécies. Estou ansioso por prová-las a todas. Sempre ouvi dizer que as plantas têm um poderoso efeito medicinal, e eu sou um cão prevenido. Descansem, eu bem sei que nem só de plantas se faz a Amazónia. É por isso que, ‘vestindo a camisola’, enfio o focinho na terra e saio de lá com a ponta do nariz pintada. Não é uma pintura tribal perfeita – aceito – mas fica a lembrança que não é qualquer um que dá o focinho ao manifesto.

A alguns minutos de carro, um passeio pela praia de Matosinhos na hora de recolher do sol pode ser motivo para um misto de sensações.
Por um lado, o Hawaii em estado puro (as palmeiras encobertas pelo nevoeiro que levou o Sebastião), com os surfistas a domarem ondas enquanto eu arrisco o meu primeiro mergulho. Ele está eufórico, será o primeiro mergulho d’Ele também? Saí do mar sem perceber se quero repetir. A sensação de ter água por todos os lados não é bem a minha praia, mas pelo menos agora percebo como se sente uma ilha.
Por outro lado, as Cataratas do Iguaçu. Aposto que aquela água com dupla nacionalidade a cair no pêlo deve provocar a mesma sensação que uma onda a rebentar-nos mesmo à frente do focinho. Às vezes sinto que a adrenalina é sobrevalorizada.
Posto isto, manifesto a minha total disponibilidade para organizar viagens a qualquer canto do mundo, por apenas uma quantidade generosa de biscoitos e toneladas da vossa imaginação.

Até à dezena,
Buddha

8 meses

8 meses no pêlo e começo a pensar que devia ter nascido umas quantas gerações à frente. Disse-me um ansi(c)ão que o mundo já evoluiu mais que a minha técnica de agarrar a bola no ar – tenho farejado o carteiro todos os dias e o meu instinto canino diz-me que ele ficou com o meu convite para jogar na NBA – mas a verdade é que nenhuma alma inventou ainda uma estratégia infalível para manter aqueles dois em casa. Tenho levado a cabo algumas experiências, mas estou tentado a acreditar que a ciência não é para mim. Será que só resulta se me enrolar num lençol branco e roubar os óculos de bricolage que ela usou para lixar as cadeiras do jardim?

Experiência 1: A Estátua
Quando o ritual matinal deles está prestes a terminar, voo escadas abaixo, aterro no sofá, e finjo que não respiro. Mais firme e hirto que uma montanha. Quando Eles passam por mim, lanço-lhes o meu olhar mais profundo e desolado. Às vezes hesitam. Às vezes aproximam-se. Às vezes colam o focinho deles ao meu e trocamos lamechices. Mas, no final, o resultado é semelhante: sozinho em casa, temporada 3, episódio 10. As estátuas na rua ganham dinheiro. Eu, que sou um cão humilde e sem grandes ambições económicas, não me safo nem naquela semana do mês onde, alegadamente, pelo menos Ela deveria estar mais sensível.

Experiência 2: Método Filandês
Diz-se, por esse mundo animal, que o que se faz lá fora é que tem valor. Fui investigar os índices de felicidade canina e os orelhudos da Finlândia lideram o ranking. Sempre achei que aquilo era terra para os Pardos dos Ursos, não para animais sensatos da minha espécie. Mas depressa percebi o porquê de tamanha alegria: lá é quase sempre noite, o sol é mais tímido do que eu quando vejo a Luna. Adoptei, por isso, o método Filandês: quando Eles completam 2/3 do ritual matinal, volto para a cama e entro num simulado sono profundo. Se eu fingir que ainda é noite, talvez eles voltem para a cama e dormimos os 3 em conchinha para celebrar. Ouço-os chamar por mim, lá ao longe. Não reajo. Eles insistem. Eu sou forte. Eles deitam-se ao meu lado, rendidos. Como é doce o sabor da vitória. Dois minutos depois levantam-se e arrastam-me para fora da cama. Não há direito. Não sei qual é o fundamento do provérbio “o que é doce nunca amargou”.

Experiência 3: O Mecânico
Sei que isto parece o pretexto ideal para ter um calendário com cadelas seminuas na parede. Mas eu estou focadíssimo no meu objetivo e o mundo já tem distrações que cheguem. Quando a porta abre para eles saírem, esgueiro-me para baixo do carro. Esta é uma estratégia que exige algum cuidado com a forma física. Principalmente no carro d’Ela, que parece que anda colado ao chão. Os mecânicos devem ser descendentes das minhocas, tão certo como esta experiência estar condenada ao fracasso.

Ela também parece concordar que a ciência não é para mim, e por isso decidiu introduzir-me à arte. Foi um bonito dueto no piano, ao som de notas aleatórias com alternância de patas. Ela, como fêmea que é, ainda conseguiu cantar ao mesmo tempo. Eram os anos do Xico, o gaiato da família. É um humano porreiro, por isso cãotrolei-me e ouvi até ao fim aquela voz de rouxinol aflito. Já dizia o brazuca: “os desafinados também têm coração”.

Até à prova dos nove,
Buddha

7 meses

Um cão chega aos seis meses sem os dentes de leite e convence-se que já não há mais nada a perder. Uns dias depois, acorda da sesta mais prolongada sem testículos. A Bela Adormecida, quando acordou, estava inteira e ainda tinha um príncipe. Alguém me devia ter alertado que a Disney não era de fiar.

A vida tira, a vida dá. Perdi dois órgãos nobres, ganhei uma cicatriz que dá mais comichão que uma fábrica de pulgas a trabalhar noite e dia, e ainda um abajour que condiz com a decoração da casa, ou, pardon, avec la decoración de la maison.
Como devem imaginar, não coube em mim de cãotente. Foi uma longa semana a redefinir estratégias básicas de sobrevivência e a recalcular distâncias laterais.

Entretanto, estou a fazer progressos na arte da destruição. Recebi uma cama nova e, como agradecimento, decidi que desta vez devia roer o tapete da casa de banho – sempre dá menos prejuízo. Acontece que a porta está frequentemente fechada e perante um “abre-te sésamo” responde-me com uma humilhante indiferença. Se pelo menos a maçaneta estivesse a uma altura cãocessivel. Esta questão já não é de agora. Gerações sucessivas têm lutado pela integração dos cães em equipas multidisciplinares de construção e decoração de interiores. Contudo, os progressos nesta matéria são inversamente proporcionais à nossa ânsia de cãotribuição. Espero não ter que me tornar um revolucionário.

Com quase sete meses, senti que era altura usar os meus talentos em prol da sociedade. Assim, tenho dedicado algumas horas do meu dia a procurar o tesouro escondido debaixo da almofada do sofá. Ainda não percebi se tenho a aprovação d’Eles porque sempre que manifesto especial empenho na tarefa tentam tirar-me de lá. Serei ainda imaturo para enfrentar os desafios de uma vida profissional? É que começo a acreditar que até era capaz de me habituar a esta vida de arqueólogo. Quem sabe Ele não se cansa de aturar ratos e se junta a mim também.

Hoje, como prenda de aniversário, fui à praia pela primeira vez. Não sei porque é que o chão do mundo não pode ser todo feito de areia. Há lá coisa mais macia?
Foi um fim de tarde daqueles que nos faz querer fazer anos todos os dias. No entanto, não querendo ser indelicado, suspeito que a Câmara de Matosinhos tem a conta da luz em atraso. É que a água do mar estava especialmente fria, e o meu sistema imunitário ainda está em desenvolvimento. Desta vez passa, mas no lugar deles eu não esticava muito a corda: é que o Senhor de Matosinhos já anda por estes lados e é homem para rosnar a valer se o deixarem às escuras.

Até aos oito,
Buddha

6 meses

Meio ano de existência e a Vida já nos quer ensinar coisas. Agora que já aprendi a fazer xixi e cocó nos locais socialmente aceites, tenho dado com o focinho, ao longo do último mês, num conjunto de emoções/sensações para as quais nem sabia estar preparado.

A Perda
Os meus dentes caíram-me como as folhas que caem das árvores. Bem, não todas, confesso que a algumas não lhes dou a oportunidade de sentirem a suave atração da gravidade. Irão os outros dentes cair também? Será que tenho que os encher de espuma como Ele e Ela fazem logo pela manhã e antes de dormir? Não tinha isso na minha lista de rituais, mas pela sobrevivência há que fazer opções.

Pergunto-me se algo no meu corpo me pertence realmente. Irá a minha cauda cair também? As minhas orelhas? O meu pêlo? O que quer que a Vida me queira ensinar com isto, podia fazer uso dos meus brinquedos. Eu já os perco de vez em quando, isso devia contar alguma coisa, não concordam?

Numa perspetiva mais material mas igualmente penosa, perdi a minha cama também. Cãofesso, contudo, que poderei ser em parte responsável, já que nos últimos dias me dediquei quase exclusivamente a perceber qual seria o seu aspecto depois de rasgada e roída. Agora já tenho a reposta: é um aspecto ausente.

Eles deram-me uma manta em substituição. Espero que não tenham ficado zangados. Pelo sim pelo não, decidi imitar-lhes o ritual: antes de me deitar, puxo a manta para um lado e para o outro e abano-a um bocado com os dentes. Para dar alguma personalidade, decidi também rodar duas vezes sobre mim antes de, por fim, atirar o meu pê-lo de encontro a ela.

A Paixão
Nestes dias tive direito a um peitoral novo. Azul, como os olhos d’Ela. Cãoincidência ou não, conheci a cadela da minha vida. Mal lhe senti o cheiro, soube que era aquele o perfume que andava à procura. E eu a pensar que só a corrida é que dava taquicardia. Atirei-me logo para o chão para exibir a minha barriga lisa e limpinha de quem não comete excessos alimentares e se lambuza pelo menos cinco vezes ao dia. Ela não resistiu. Se quiserem tirar notas, estejam à vontade. Talvez tenha sido do azul, às tantas a cor é magnética. Mas a minha auto-estima obriga-me a pensar que o meu charme ajudou à magnetização. O quer que tenha sido, espero que ela não se faça difícil e continue a aparecer. Pensar em ficar sem a ver dois dias é pior que estar a olhar para os meus biscoitos e não conseguir saltar alto o suficiente para chegar até eles.

A Imensidão
Começo a ter a sensação que o mundo vai muito além dos metros quadrados que conheci até então. Os meus passeios de fim de tarde têm sido cada vez mais variados. Toda uma nova panóplia de relva, pombas, e paisagens. Conheci o rio Douro e a Serra do Pilar. Conheci Belém e os jardins que se prolongam para lá do CCB. Nesse dia, percebi que os humanos afinal são bem parecidos connosco: não faltava gente a comer e a dormir na relva, exibindo a boa vida.

Mas a grande descoberta do mês foi o meu jardim particular da casa da Margem Sul. Como é que eu ainda não conhecia aquele mundo encãotado? Aquele é o local perfeito para pôr em prática os meus desportos de eleição: corrida em círculos ou aleatória em grande velocidade pela relva fora intercalada com breves paragens para respirar; peregrinação e sumiço de corcódoas por tempo indeterminado; repouso e meditação à sombra de uma árvore à escolha após um rodízio de folhas caducas que se assemelha à Bonnes ‘R Us mas em versão outdoor.

Pergunto-me o que me espera o próximo mês. Alguma pista?
O que quer que venha por aí, que seja docinho. Vocês acreditam que Ele foi com Ela à Suiça e nem um chocolate me trouxeram? Já sei, Vida, já sei, prometo que não guardo ressentimentos.

5 meses

5 meses. Deve ser um marco importante este, porque Eles fizeram questão de me dar o meu primeiro banho há uma semana atrás. Ainda estou a tentar compreender o processo. Fiquei o mais quieto possível, a examinar cada detalhe, mas não consegui tirar muitas conclusões. Na verdade, tudo o que me ocorre são interrogações:

– Será que a água da chuva também pode sair morna?
– O que é aquilo que faz o meu pêlo transformar-se em espuma branca? Será o mesmo que o meu dono usa para ficar com a cara sem pêlo? Isso significa que devo temer pelo meu?
– Como é que as toalhas coexistem no mesmo mundo que o verbo sacudir?
– Que bicho é aquele que faz um barulho muito inconveniente e manda um bafo de ar quente? É por causa dele que tanto falam no aquecimento global?

Consigo farejar o vosso pensamento: mais uns banhos no pêlo e acabo a roer os livros de Filosofia da Biblioteca Municipal.

Tenho que perguntar aos meus novos amigos se lá em casa deles também existem estes rituais. Sim, ouviram bem, no espaço de um mês fiz 3 amigos: o Kiko, o Namaste e a Zuki. Confesso que não sou de aproximações fáceis. Na dúvida, ladro a todos de longe e fujo de todos de perto. Mas estes três, cada um ao seu jeito peludo, têm conquistado a minha confiança.

A Zuki foi a minha companhia quando tive que ficar uns dias sem Eles. E eu que achava que já sabia o que significava essa palavra tão portuguesa, a saudade. Espero poder ver a Zuki mais vezes, mas desta vez com Eles por perto. Estou a pensar sugerir levá-la um dia lá a casa. Almoço de família, petiscos para todos. Rodízio de maçã e cenoura. Acho que tem tudo para correr bem.

Agora sentem-se confortáveis – já aprenderam a fazê-lo, certo? – porque não vão acreditar no presente que eu recebi este mês! Melhor que os biscoitos de frango que já tive oportunidade de provar. Melhor que a minha cama nova, com duas portas, teto de abrir e estofos quase tão confortáveis como o sofá ou o banco de trás do carro d’Ele, onde já viajo all by myself. Agora que já me escovam o pêlo, estou com um certo receio que o próximo passo sejam inscreverem-me numa escola de inglês. Como cão que sou, está fora de questão fazer figura de urso, por isso já comecei a treinar. Mas chega de suspense que já passaram os Óscars e os homens dourados não servem nem para roer, que estragam o esmalte dos dentes: este mês tive um fim-de-semana inteiro a passear com Eles! Almoços na esplanada, corridas em campos verdejantes, feira de queijos e enchidos e longos passeios por uma aldeia com as casas todas iguais. É a isto que chamam de férias? Tenho uma ótima notícia então: sinto-me mais do que preparado para estar de férias todos os dias. Não subestimem os meus 5 meses, ou vou ter que vos contar em voz alta o número de bigodes que me saem do focinho? Até já sobrevivi à primeira carraça! É preciso saber dar a pata? Vamos a isso humanos, também já domino o gesto.

Sabem outra coisa que adoro? Esconder-me debaixo das mantas ou dos lençóis até não haver réstia de luz. Das primeiras vezes, Ela teimava em destapar-me o focinho, para eu respirar melhor. Acho que agora já percebeu que é só Ela que precisa de respirar e dormir virada para janela. Eu cá dou-me bem no escuro. E a dormir, a dormir dou-me ainda melhor. Mas já percebi que isso é de família, é da família Bocejo.

P.S. Acabei de celebrar o meu aniversário da forma mais criativa que encontrei: escavei um túnel naquela parede fofinha que está no meu quarto. Na próxima vez prometo que vos convido a tempo da festa.