as judites


Em 25 anos de vida, conheci poucas pessoas que me deixassem sem palavras. Não falo de um deixar sem palavras qualquer, mas sim daquele que surge quando tudo em mim se cala para absorver cada palavra, cada mensagem, cada pedaço de sabedoria que aquela pessoa tem para transmitir. Uma sabedoria que não vem (só) dos livros, mas de uma coleção de experiências de vida que nos vão moldando a personalidade, eliminando muitas das nossas jovens certezas e, mais do que tudo, nos ensinam a ver em perspetiva.

E nem tudo são coisas boas neste percurso. Aliás, diz-se por aí que são os momentos difíceis os verdadeiros professores da vida. E essa é mais uma razão que me faz admirar quem por eles passa e ainda consegue soltar gargalhadas valentes que absorvem qualquer recordação mais triste.

Como eu disse, na azáfama do meu dia-a-dia, não encontro muitas pessoas assim. Talvez por ele ser exatamente uma azáfama e deixar pouco espaço para (re)encontros. Talvez eu não seja facilmente impressionável a este respeito. Ou talvez tenha ainda muito que aprender na arte do saber ouvir. É incrível a quantidade de coisas que podemos aprender quando nos dispomos realmente a ouvir alguém assim. Hoje foi um desses dias. E sempre que um momento assim acontece, dou por mim a pensar nos tantos outros que perdemos pelo caminho.

Ter muitos anos não é só sinónimo de dores nas articulações, cabelos brancos e pele com os vincos que o tempo deixou. Ter muitos anos é ter um baú de experiências e lições de vida prontas a serem partilhadas se nos dispusermos somente a ouvir. Venham mais dias assim, e mais pessoas assim, que nos inspirem, que nos absorvam a atenção e nos façam querer que as horas não voem. E venham mais ouvidos atentos, menos certezas, mais suspiros de admiração.

despedidas

 

Adoro despedidas. Adoro o sentimento que torna a despedida daquele casal, no aeroporto, infinita. Que os faz abraçarem-se e dizerem, numa troca de olhares e suspiros, “é a última”, e quando volto a procurá-los continuam ali, no novo último abraço, carregado com tanta emoção que me deixa os olhos lavados.

Não gosto de despedidas. Não gosto de despedidas por me deixarem os olhos lavados, por me apertarem o peito como se fosse eu que estivesse ali, naquela angústia. Adoro despedidas por me fazerem valorizar os meus e sentir sortuda por os ter tão perto. Não gosto de despedidas por me fazerem pensar que devia estar mais vezes mais perto dos que tenho tão perto quanto umas horas de carro, um voo de avião, um café fora de horas, e, ao mesmo tempo, parecem estar tão longe. Não gosto de despedidas por sentir que os pais que abraçam a filha no aeroporto e sabem que aquele vai ser o primeiro de muitos abraços assim ficam, naquele momento, incompletos e sem chão. Adoro despedidas por mostrarem, da forma mais frágil, exposta e sincera, os sentimentos mais bonitos de que são feitas as relações. 

até já, santinho

Na mais ténue constipação de inverno
Ou numa singela alergia de verão
Um pouco de mim estará sempre contigo
À mera distância de um ponto de exclamação.

Palavras leves as desses poetas
Que hiperbolizam a mais simples verdade
Tu sim, indubitavelmente me completas
Muito além das palavras, (n)a amizade.

Atchim! Santinho.