mulher-montanha

Hoje conheci uma montanha. Forte, firme, sólida. Uma firmeza que parece ter sido construída ao longo dos anos. A solidez de quem já viveu ventos fortes, chuvas pesadas, mas se manteve erguida, determinada, resiliente. A força de quem fez braço de ferro com algumas tempestades e saiu vencedora. Com marcas, é certo. A erosão não perdoa. Nem mesmo a ela, personificação perfeita da expressão “força da natureza”. Contudo, não é a erosão que a define. Na verdade, aos meus olhos, ela é o mais bonito antagonismo que eu já conheci. A incrível simbiose entre força e delicadeza. Talvez ela não se aperceba, talvez não se reconheça nesse quadro. Mas quando olho, mais atenta, vejo caminhos de subtileza que me fazem pensar que o amor passou por ali muitas vezes, e de todas se demorou.

Esta montanha enche a sala, tal é a sua imponência. Mas, note-se, sem fazer sombra às demais. Pelo contrário, a sua luz é tão intensa e genuína que, quando o sol lhe aquece o rosto, as montanhas vizinhas brilham com outra intensidade. Dou por mim a querer sentar-me ali, num cantinho, parada no tempo, a contemplá-la.

A beleza desta montanha não cabe num retrato, numa imagem. Não está ao alcance do pintor mais talentoso, nem do fotógrafo mais experiente. A beleza desta montanha vive na sua essência. Na forma como se move, na segurança com que se expressa. Vive na personalidade vincada, nos rasgos de doçura, no seu sentido de humor tão próprio. Vive no charme de uma auto-confiança conquistada com as armas mais meritórias: esforço e dedicação.

Esta é, para mim, a verdadeira beleza de uma montanha.
Esta é, para mim, a verdadeira beleza de uma mulher.

só hoje, Mulher


Mulher, que tanto te cobras
só hoje, dá-te uma folga.
Baixa a guarda. Aceita.
Só hoje, não precisas de ser perfeita.
O mundo safa-se, por umas horas
enquanto tu te demoras
no capricho de, só hoje, não seres mil.
Apenas uma.
Apenas tu, em suma.

Mulher, que tanto lutas
só hoje, baixa os braços,
entrega-te.
Dá-te o descanso da resignação.
Amanhã é outro dia,
e essa guerreira que em ti mora
não há noite que a leve embora.
Ou pausa que a amanse.
Amanhã, feita a madrugada,
erguer-se-á, revigorada,
e com ela a sua missão.

Mulher, que tanto (te) dás
só hoje, aceita (de volta, sem volta).
O mimo. A ajuda. O cobertor.
O abraço que acalma a dor.
A preocupação de quem cuida,
os erros de quem se descuida.
Ou tudo o resto que por aí venha,
se por aí vier com amor.

encontros com o silêncio


 
No silêncio cabe a pausa.
Cabe uma respiração profunda. Um suspiro.
No silêncio eu só fico. E respiro.
No silêncio cabem as horas passadas
que voltam agora em câmara lenta.
No silêncio cabe um conforto. Uma paz que alimenta.
Cabe o espaço para sentir.
O tempo para interiorizar.
No silêncio as emoções têm onde se sentar.

No silêncio cabe tudo o que de bom
fora do silêncio não soubemos ser.
Cabe a outra perspetiva, a compreensão.
No silêncio cabe a entrega e a aceitação.

No silêncio cabem as memórias, e a saudade.
No silêncio cabe a terra fértil para a criatividade.

No silêncio cabe o autêntico, o verdadeiro.
No silêncio caibo eu, por inteiro.

HÁ RITA PARA ALÉM DA SAIA (até porque a saia já está mais que arredondada)

Rita vem do açoriano “ri-tâ” que significa “mulhé que sabe vivê e nã precisa de durmi”. E isto é a verdade verdadeira – se as outras Ritas não se identificam é provável que alguém lhes tenha escolhido o nome errado.

A (minha) Rita é também sinónimo de produtividade. É muito difícil apanhar a Rita a desperdiçar tempo. Ou ela está a usar o tempo para ser a melhor naquilo que faz, ou está empenhada a usar o tempo para ser a melhor naquilo que não faz. A Rita é a rainha soberana das hormonas e do ócio, e esse duplo reinado poderá ser uma das explicações para este exemplar de génio andante passar despercebido no mundo das pessoas comuns.
A Rita é, por isso, a escolha segura para um casamento com a vida. Na saúde e na doença, no sofá e no ginásio, em viagem ou em inércia, a Rita será sempre uma boa companhia. Se descobrirem alguma coisa que esta moça não faz bem, o Jumbo devolve o dinheiro. O mais provável é que ela já a tenha descoberto primeiro e entretanto a tenha superado com estilo: agarrada a um apara-quedas (como é que este não é o nome certo?!) ou frente a frente com uma senhora cascata.

A (minha) Rita é também sinónimo de resiliência. Quando o universo precisa de atenção, decide pregar umas partidas à Rita. Mas a Rita tem a força do mar revolto e acaba sempre a surfar a onda com o universo ao colo. Entretanto o universo rende-se e dá-lhe uma noite estrelada no deserto ou um pôr do sol no mar. E a vida continua, suave, com o mar também sabe ser.

Não sei o que o universo tem reservado para a Rita, mas sei que esta moça vai dar muito que falar. E se ele aprontar das suas, vai acabar a dançar samba com ela. Eu por cá estarei, orgulhosa, a garantir que ela mantém o seu disfarce de pessoa comum ou que não é raptada e exilada em troca de milhões oferecidos pelo balcão de reclamações da TAP.

Parabéns Rita,
O universo que se prepare para mais um ano ao teu colinho.

quando for grande quero fazer mais perguntas

 

 

 

Se eu tivesse que escolher o pecado mortal com que mais me identifico não havia espaço para grandes hesitações: a preguiça. Mas, de quando em quando, a inveja faz-me umas visitas.

Nos últimos dias tenho tido o privilégio de ouvir profissionais da(s) minha(s) área(s) de interesse a partilhar ideias, conhecimento, paixões. Pessoas realmente inspiradoras. Aquele tipo de pessoas que te faz ambicionar um dia chegar aos seus cavados poplíteos (porque chegar aos calcanhares não seria ambição). Aquele tipo de pessoas que te tira o tapete, te faz questionar o pouco que achas que já sabes, te faz pensar que vais demorar três vidas a começar a ter algumas certezas. Aquele tipo de pessoas que te ficam na cabeça porque tocam nas tuas inseguranças, nas tuas fragilidades, nos teus sonhos. E, sem saberem, te desafiam com o seu discurso inspirador. Aquele tipo de pessoas que faz perguntas inteligentes. Que pensa fora de todas as caixas. Isso é o que eu mais invejo: pessoas que fazem perguntas. Se eu já fui uma delas, acho que esse talento não sobreviveu à idade dos porquês. Pessoas que fazem perguntas abanam o mundo, fazem com que ele gire com mais charme. Pessoas que fazem perguntas fazem a diferença. E como eu as invejo.

A todas elas, deixo o meu profundo agradecimento.
Por abanarem o meu mundo.
Por terem contribuído para muitas das (poucas) respostas que hoje tenho.
Por terem aprendido a partilhar o corpo com uma cabeça que não pára de questionar. Fazer perguntas cansa, imagino eu.
Obrigada por me fazerem estas rasteiras e me obrigarem a levantar e continuar a jogar a bola para a frente, com ainda mais vontade.
Obrigada por me tirarem o sono. Por serem a minha adrenalina e a minha frustração. Por serem a minha mudança.
Quando for grande talvez também eu faça perguntas.

a gente e as coisas da gente

A gente inventa e se reinventa
Corre, cansa e levanta de novo.
A gente esperneia, reclama com o povo,
Culpa, se desculpa,
Quase desiste.
Mas volta e tenta. Insiste.
Procura arrumar num só dia
Os afazeres de todo o mês
E de hora em hora suspira.
E diz que faz diferente na próxima vez.

A gente tem tanto que já conquistou,
Mais outro tanto que o mundo traz por defeito.
Mas na volta, se veste de bicho insatisfeito,
e encontra sempre algo em falta,
para chegar ao quase-perfeito.
Mal não tem,
Se o caminho for pelo bem.
A gente só não pode esquecer
Que, no fundo, isto de viver
Não tem muito de complicado,
E cabe numa frase só:
Amar, e ser amado.

(aqueles dias em que a tua inspiração chega com sotaque do Bráziu)

o presente

Já lá vão 11 dias desde que completei as minhas 30 primaveras. Ou invernos, se quisermos algum rigor. E foram precisos 11 dias para que me apercebesse como me sentia em relação a esse número simpático. Há 3 anos rabisquei num guardanapo 10 coisas que gostava de “conquistar” para mim até chegar aos 30. Hoje, o guardanapo sorriu para mim. E segundos depois eu sorri de volta ao perceber que deixei apenas uma por cumprir. Espero conseguir manter as outras 9 comigo uns 30 anos mais. O meu corpo ia agradecer. Especialmente na parte que diz “Dormir mais. Mesmo.”

E aí têm, num parágrafo apenas consegui mergulhar no passado e emergir no futuro. Há pouco, enquanto os meus dedos se entretinham nas teclas do piano, dei por mim a pensar quão ténue é este “equilíbrio” de viver, sentir e aproveitar o momento presente sem, no entanto, deixar esmorecer a vontade de fazer planos para o futuro? Quanto tempo estarei eu a roubar ao presente para planear o que ainda não chegou? Assim sem grandes modéstias eu diria: bastante. Essa sou eu. Eu e o hobby preferido do meu cérebro: planear, imaginar, construir. Não nos condeno. Somos otimistas chapados por defeito. E não temos muito talento para estar parados, ou para esperar que a vida aconteça. Adoramos surpresas, claro. Mas nos intervalos gostamos de nos manter ocupados a tentar ser um pouco melhor, viver um pouco melhor, fazer um pouco melhor. Às vezes não apetece, é verdade. Às vezes não queríamos sentir que depende tanto de nós. Ser adulto é para gente grande, e às vezes só queríamos ser pequeninos outra vez. Mas temos este pressentimento que não saberíamos ser de outra forma. Ainda assim, sentimos que esse será o nosso grande desafio, talvez maior que os 10 que o guardanapo guardou: fazer mais pausas no presente. Só estar. Só ser. Só sentir. “Regar as Pausas”, como ouvimos recentemente de alguém que tanto nos inspira. Mais do que uma vez ao dia, se possível. Esse será, sem dúvida, um bom presente para estes e para os próximos 30. E o maior dos desafios.

A parte boa: não estamos sozinhos. Temos na nossa vida pessoas lindas (e um Buddha orelhudo) que nos devolvem o presente e nos ajudam a regar as pausas em cada (re)encontro. Obrigada pessoas lindas. Têm sido 30 invernos muito quentinhos e felizes.

Até breve,
Diana Bocejo
e os seus sweet 30 (mas não tão sweet como os 29 porque entretanto devo ter batido com a cabeça e decidi começar a tomar café SEM açúcar)

moção de censura aos finais necessários

Tenho que começar este texto admitindo que sou uma romântica. Como é possível não gostar de uma bonita história de amor?
Mas é verdade que, acima de tudo, gosto de uma boa história. Admiro o talento de quem consegue passar uma mensagem e acordar sentimentos tantas vezes adormecidos na rotina do dia-a-dia. Este filme, esta história, foram, para mim, um desses despertadores barulhentos, determinados, impiedosos.

Apresentou-se com uma boa história e, como se não bastasse, com uma bonita história de amor. E contou-a e cantou-a em duas línguas bem diferentes mas com tanto potencial quando se unem: a representação e a música. Não é preciso muito tempo de filme para nos apaixonarmos. Eu caí logo, feito amadora. Mais uma cena, mais uma música, e eu ali, colada, encantada.

Até que chega o momento em que sentes que te vão tirar o tapete. Não queres. Resistes. Questionas. E ficas zangada e rabugenta. Não por te terem tirado o tapete, mas por saberes que, muito provavelmente, uma grande parte da beleza da história vai ser esse golpe que acabaste de levar. Esse golpe que não te vai deixar esquecê-la, que não te vai deixar esquecer a forma como ela te fez sentir.

Sou uma romântica, sim. E rais parta que bem queria um final feliz. Mas, citando a parede de um café onde uma grande amiga costuma ir: “há os finais felizes, e há os finais necessários”.

Em resumo, grande filme. Grande banda sonora.
Enquanto decidem se tenho razão, vou só ficar aqui zangada e rabugenta mais um bocadinho por me terem tirado o final feliz de hoje.

um ano com a leonor

Minha pequena Leonor,
Escrevo-te no rescaldo de um dia muito especial: o teu primeiro aniversário.
Foi um fim de tarde de emoções, e a tua casa encheu-se de pessoas que gostam muito de ti. Deves estar a perguntar-te como é que num ano apenas conseguiste que tanta gente gostasse assim tanto de ti. É fácil. Em primeiro lugar, tens as bochechas mais apetecíveis do mundo. Segundo, a tua gargalhada sonora derrete qualquer um. Terceiro, mas não menos importante, és filha da tua mãe. O que faz com que as duas primeiras razões sejam muito provavelmente herança dela. Isso, e essa alegria tão genuína que vive dentro de ti. Eu sei, o aniversário é teu, e aqui estou eu a falar dela outra vez. Isto um dia passa-me. Mas hoje, não consigo não o fazer. Sabes, há pessoas incríveis, e depois há a tua mãe. Não porque preparou a tua festa com todos os detalhes. Não porque cozinhou coisas boas para nos manter de barriga cheia enquanto tu te babavas para nós. Isso são coisas que as mães fazem. A tua mãe é incrível porque só tem uma resposta dentro dela: amor. E eu já o sabia, mas hoje Leonor, hoje foi tão evidente. A tua mãe coloca amor em tudo. Nos petiscos que cobrem a mesa, no novo cantinho da sala, na cápsula do tempo que preparou a pensar em ti, nas palavras, nas atitudes. A vida é como as frutas novas que tu tens provado neste último ano: às vezes muito doce, outras vezes bem amarga. Há momentos que queremos provar muitas vezes, outros aos quais fazemos caretas e só queremos que acabem depressa. Alguns deles apanham-nos de surpresa, quando nem sabemos que careta usar. Neste último ano, deste à tua mãe momentos muito docinhos, a que ela respondeu com muito amor. Era a resposta inevitável. Mas a vida, malandra, deu a provar à tua mãe algumas frutas bem amargas. E ela fez caretas, tal como tu, só que não tão fofas. Mas sabes como é que ela respondeu depois? Da forma mais difícil: com amor. Com o amor mais forte que eu já vi nela. Um amor tão forte que, depois destes anos de amizade, ainda me conseguiu surpreender. E emocionar. Eu sabia que ela tinha um coração gigante, mas, aqui entre nós, tu fizeste com que ele se superasse, com que ele não tivesse limites mais. Tudo isto num ano apenas. Estou seriamente desconfiada que nasceste com super-poderes.

Parabéns, minha querida Leonor. E obrigada, de coração. Foste uma grande parceira de equipa nesta época que passou. Seguimos juntas, sempre. Sei que tenho em ti a melhor aliada para encher o prato da tua mãe com as frutas mais docinhas do quintal. Imagina quando conseguires trepar às árvores. Ela que se prepare.

Um abraço apertadinho,
Diana

365 razões para (não) fazer um 365

O mundo é povoado por loucos. Eu incluída. Cada louco com a sua loucura, cada tolo com a sua mania – ou qualquer outra expressão que possa encaixar aqui – o mundo lá vai sobrevivendo, louco, também ele, por não se cansar de andar às voltinhas. Acontece, por vezes, que pessoas loucas com gostos semelhantes tenham ideias ainda mais loucas, contagiando outras que não ambicionavam níveis mais elevados de loucura. Sim, isto vai ficar pessoal. A tragédia aconteceu no dia 1 de Janeiro de 2017 quando um grupo de amigos loucos – entre outras coisas, por fotografia – me aliciaram a fazer um 365. O conceito, inventado por um louco com muito tempo livre, era simples: tirar uma fotografia diferente por dia. Eu, que gosto de um bom desafio, agarrei-me aos meus escassos níveis de sensatez com todas as forças, e respondi “sim sim, que ótima ideia, não contem comigo”. Segue-se um bombardeamento de bons motivos de que eu me estaria a privar ao negar-me a esta ideia incrível. 29 anos de auto-conhecimento mantiveram-me firme na certeza que aquilo não era para mim: “Malta, isso é um compromisso muito grande. E eu sei que não vou conseguir cumprir, por isso não quero começar algo para depois ficar a meio. Têm todo o meu apoio, mas fico na bancada.” Só que não. Uns dias depois, uma amiga com ainda menos tempo livre que eu, liga-me com aquele argumento irrefutável “anda lá, se eu consigo, tu consegues.” Lá se foram 29 anos de auto-conhecimento ao ar num telefonema só.

Imaginem o que é começar o ano já com uma coisa para fazer por dia. É o que parece: péssima ideia. Mesmo que essa coisa seja algo que até gostam de fazer. Definitivamente, o sentido de obrigação estraga o clima. E depois, sei lá, a vida acontece. O mais normal é que haja um dia, ou vários, em que simplesmente não vai dar. Ou simplesmente não me apetece. Mas vá, se fosse fácil não era um desafio.

Melhor que isso, é que a imaginação dos loucos não pára, e a experiência foi ganhando toda uma outra complexidade. E regras. Ora vejam: tirar uma foto por dia – certo – e em cada semana, uma das fotos tem que responder a um desafio previamente definido por outro louco qualquer (disponível on-line aqui). Só assim já dá para ficar cansado. E que tal se, em cada um dos meses, uma das fotos tivesse que ser em “dose dupla”, mostrando uma perspectiva diferente? Fácil. Agora respirem, não se pode repetir o mesmo sujeito nas fotos mais do que 10 vezes. 10 vezes em 365 dias dá muita diluição. Mas não desanimem: nos dias em que não nos sentirmos inspirados, podemos ir buscar fotos ao “baú”. 10 no máximo, para o ano todo. Claro que eu usei as 10. E claro que não chegaram para os dias em que, por alguma razão, não deu. De resto, cumpri quase todas as regras. Na verdade, acho que falhei apenas a mais importante – tirar uma foto por dia. Detalhes. Aqui me confesso, por isso, admitindo que, em alguns dias, tirei mais do que uma fotografia e fui fazendo render para a semana. Já estou a rezar o pai nosso três vezes por serão.

Nem tudo à minha volta é fotografável para mim. E há semanas e semanas, vocês sabem. Mas enfim, olhando para tudo o resto, teria todas as razões para estar muito satisfeita com o meu desempenho. Há excepção de um último “detalhe”. Era suposto isto ter acabado a 31 de Dezembro de 2017, não a 3 de Dezembro de 2018. Como eu disse, detalhes. Vendo bem, só falhei o dia e o ano, o mês foi em cheio. Confirmei, com isso, o meu optimismo incurável – acreditei, até poucos dias antes, que ia conseguir acabar a obra a tempo. Até ao momento em que percebi que não. E aí, enfim, permiti-me um desleixo compensatório, como quando passamos um ano sem comer ferrero rocher e de repente devoramos uma caixa inteira porque, enfim, é Natal, e é um luxo sazonal que não podemos desperdiçar. Diria que 80% das fotografias são de facto de 2017. Em relação aos outros 20%, deste ano, podemos pensar nelas, de certa forma, como fruto das experiências desse ano também. Afinal, quanto do que somos hoje reflecte as experiências vividas nos anos anteriores? Não sei se me safo desta com reflexões filosóficas, mas fica a tentativa.

Regras à parte, estou orgulhosa de mim. Não tanto pela parte técnica – apesar de ter aprendido algumas coisas novas, especialmente com as ideias mirabolantes dos desafios semanais, sinto que muito disso se perderá por falta de prática – mas sim por algumas das fotografias que consegui sacar, e, mais do que tudo, por ter conseguido levar isto até ao fim. Ainda que fora do prazo de validade, mas podem ver na mesma que não vos vai deixar doentes da barriga. Se precisava de um 365 para sacar estas fotos? Acho que não. Fotografia é, para mim, uma forma de me expressar, e, tal como quando escrevo, a inspiração não vem todos os dias, e são mais os dias em que tende a não vir. Nunca a frase “aproveita o momento” fez tanto sentido como quando o tema é este. Contudo, tenho que admitir que o 365 me fez olhar para o que me rodeia com olhos mais curiosos que o habitual, qual predador à procura de alimento. Felizmente, foi só durante 365 dias. É que eu nasci para ser distraída. Ou com atenção selectiva, se preferirem.

Partilho convosco o resultado deste desafio louco, com a certeza profunda que não me apanham noutro. Mas não desincentivo ninguém, desta vez fico é MESMO na bancada. Um avé aos meus companheiros de equipa que lograram este feito a tempo e horas. Um dia vou ser disciplinada assim. Ou talvez não. Muito provavelmente não. Mas devo à vossa loucura este reviver de 80% – mais a teoria filosófica e pedaços do baú – do meu ano de 2017, ou, pelo menos, de algumas das imagens e momentos que ficaram para contar a história.

Vemo-nos por aí, nas próximas fotografias. Rebeldes, anárquicas, sentidas.
Bons disparos,
Diana Flores

(fotos com melhor qualidade, legendas e jogos do galo para todos os gostos disponíveis aqui)