moção de censura aos finais necessários

Tenho que começar este texto admitindo que sou uma romântica. Como é possível não gostar de uma bonita história de amor?
Mas é verdade que, acima de tudo, gosto de uma boa história. Admiro o talento de quem consegue passar uma mensagem e acordar sentimentos tantas vezes adormecidos na rotina do dia-a-dia. Este filme, esta história, foram, para mim, um desses despertadores barulhentos, determinados, impiedosos.

Apresentou-se com uma boa história e, como se não bastasse, com uma bonita história de amor. E contou-a e cantou-a em duas línguas bem diferentes mas com tanto potencial quando se unem: a representação e a música. Não é preciso muito tempo de filme para nos apaixonarmos. Eu caí logo, feito amadora. Mais uma cena, mais uma música, e eu ali, colada, encantada.

Até que chega o momento em que sentes que te vão tirar o tapete. Não queres. Resistes. Questionas. E ficas zangada e rabugenta. Não por te terem tirado o tapete, mas por saberes que, muito provavelmente, uma grande parte da beleza da história vai ser esse golpe que acabaste de levar. Esse golpe que não te vai deixar esquecê-la, que não te vai deixar esquecer a forma como ela te fez sentir.

Sou uma romântica, sim. E rais parta que bem queria um final feliz. Mas, citando a parede de um café onde uma grande amiga costuma ir: “há os finais felizes, e há os finais necessários”.

Em resumo, grande filme. Grande banda sonora.
Enquanto decidem se tenho razão, vou só ficar aqui zangada e rabugenta mais um bocadinho por me terem tirado o final feliz de hoje.

sob o sol de monsanto

 

Monsanto faz-se anunciar a uns km’s de distância, pela posição elevada que ocupa no pódio do relevo nacional. Seu é também o pódio da “aldeia mais portuguesa de Portugal”, conquistado em 1938. Curioso que nesta aldeia tão portuguesa seja o sotaque vizinho espanhol aquele que sobressai nas ruas quase nada agitadas. “Eles gostam muito de vir cá. Principalmente nesta altura, que também é feriado em Espanha.”, desabafa o dono de um dos poucos cafés com a porta aberta naquela sexta-feira, véspera de feriado. Pouco passava das 16h daquele 7.º dia de Dezembro quando chegámos à aldeia, uma das 12 históricas de Portugal.

O sol não se acanhava, iluminando os enormes pedregulhos de granito que caracterizam a paisagem e dão fama à aldeia. Entre eles, as casas de pedra incrivelmente preservadas – e algumas já claramente renovadas – não deixavam o quadro ficar mal. Ao vaguear pelas ruas na direção do castelo, era possível testemunhar réstias de vida humana, que nos garantiam que aquela era ainda a residência diária de alguém. Três peças de roupa a secar no estendal, uma ou outra decoração de Natal pendurada na porta de entrada, e uma cozinha em movimento, denunciada pelo cheiro que escapava pela janela entreaberta.

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Quando, por fim, entrámos no castelo dos Templários, já o sol se despedia. A responsabilidade poderá ser repartida pela vista magnífica que se revelava no par de miradouros com que nos cruzámos pelo caminho (Penedo do Pé Calvo e um outro que não sei se algum dia foi batizado). Sem tempo para nos perdermos nos recantos daquele pedaço de história, deixámo-nos ficar por ali, abrigados pelas muralhas para que o vento noturno não nos impedisse de contemplar um pôr-do-sol digno de fazer parar o tempo.

  

Regressámos ao centro da aldeia com a certeza que queríamos voltar ao seu ponto mais alto. O silêncio foi o nosso fiel companheiro nesta caminhada de regresso. Noite feita, a aldeia parecia deserta. A exceção era apenas a Taverna Lusitana, que vivia por aquela hora um clima de festa. Demasiado entusiasmo, contudo, para a tranquilidade que procurávamos para aquela noite. Seguimos, por isso, os trilhos do silêncio, e demos por nós a jantar na “Adega Típica O Cruzeiro”, um dos poucos restaurantes que se mantém como opção para os visitantes da aldeia.

Eram umas estranhas 21h quando regressámos ao alojamento local e vingámos o cansaço das últimas semanas, o corpo pesado atirado para a cama de madeira e um saco de biscoitos locais entregue à mesa de cabeceira, enquanto espera para ser estreado.

8 de dezembro. Feriado para todos menos para o Sol, que decidiu brilhar com toda a intensidade disponível naquele ainda dia de outono. Depois de um acordar bem molengado, batemos à porta do posto de turismo já a manhã ia a meio. De lá saímos com a missão de percorrer o trilho que se entrecruza pelas ruelas da aldeia, o PR5. Antes, uma demora inesperada por uma loja de artesanato local, de onde saímos com a promessa de voltar para buscar a marafona acabada de comprar, e com um toma-lá-dá-cá de experiências de viagem, de fotografia, de vídeo e de vida. Um dia o talento do Rui ainda vai dar que falar.

O PR5 levou-nos para o meio das árvores incontinentes de bolotas, para caminhos ocupados por silvas e arbustos, e para outras perspetivas sobre a aldeia que tínhamos escolhido como destino. O caminho incerto deste trilho aparentemente pouco percorrido levou-nos a escolher a calçada romana que compõe parte do GR12 para regressar ao centro da aldeia, ao som das estaladiças folhas de outono que coloriam a paisagem. Foi o melhor dos dois mundos – ou, diremos assim, dos dois trilhos.

  

Foi com as pernas doridas daquela longa subida final e a barriga a gritar por alimento que suspirámos ao descobrir um mercado de natal exclusivo daquele fim-de-semana. Benditos espanhóis que encheram as ruas daquele sábado solarengo e motivaram os locais a expor nas mesas o que de melhor se fazia e cozinhava por ali. Tudo isto ao som da voz e da guitarra de um (suposto) irlandês, que entoava clássicos salpicados com temas de natal.

A esplanada da Taverna Lusitana já antes tinha chamado por nós. Fortes, resistimos-lhe até ao momento ideal – aquele fim de almoço, envolvido por um sol quente, as pernas a pedir descanso e os livros na mão, ansiosos por serem a companhia das horas seguintes. Por ali ficámos, alapados na melhor mesa da esplanada, com uma vista imprópria para quem ambicionava concentrar-se na leitura. Nada, repito, nada, nos faria sair dali, que não a vontade de repetir o pôr do sol na melhor janela da aldeia – o castelo.

Seguindo as indicações que nos restavam do PR5, chegámos ao castelo a tempo de escolher o ponto mais alto para nos despedirmos daquele sábado quente e maravilhoso. Até o vento colaborou, deixando-se ficar por casa. E foi ali, nesse mesmo ponto, que assistimos ao acender das luzes e ao reaparecer dos contornos da aldeia por entre a escuridão e a quietude da noite. O silêncio, de novo. A perfeita combinação do silêncio e da natureza. Não podíamos imaginar melhor forma de nos despedir de Monsanto. Foi com essa mesma imagem e serenidade que vimos a aldeia desaparecer no retrovisor do carro, na manhã seguinte. Faltou só trazer uma daquelas pedras ao estilo Stonehenge para substituir o pisa-papéis lá de casa. Fica para o nosso reencontro, Monsanto.

    
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uma curiosidade sobre as marafonas…
“Há duas crenças locais acerca dos poderes destas bonecas: uma primeira, que faz delas amuletos protectores contra tempestades, e uma segunda, enquanto objecto supersticioso para dar boa fortuna às mulheres no momento de engravidarem.”

 

Fotografias da autoria de:
Diana Lopes
Pedro Santos

um ano com a leonor

Minha pequena Leonor,
Escrevo-te no rescaldo de um dia muito especial: o teu primeiro aniversário.
Foi um fim de tarde de emoções, e a tua casa encheu-se de pessoas que gostam muito de ti. Deves estar a perguntar-te como é que num ano apenas conseguiste que tanta gente gostasse assim tanto de ti. É fácil. Em primeiro lugar, tens as bochechas mais apetecíveis do mundo. Segundo, a tua gargalhada sonora derrete qualquer um. Terceiro, mas não menos importante, és filha da tua mãe. O que faz com que as duas primeiras razões sejam muito provavelmente herança dela. Isso, e essa alegria tão genuína que vive dentro de ti. Eu sei, o aniversário é teu, e aqui estou eu a falar dela outra vez. Isto um dia passa-me. Mas hoje, não consigo não o fazer. Sabes, há pessoas incríveis, e depois há a tua mãe. Não porque preparou a tua festa com todos os detalhes. Não porque cozinhou coisas boas para nos manter de barriga cheia enquanto tu te babavas para nós. Isso são coisas que as mães fazem. A tua mãe é incrível porque só tem uma resposta dentro dela: amor. E eu já o sabia, mas hoje Leonor, hoje foi tão evidente. A tua mãe coloca amor em tudo. Nos petiscos que cobrem a mesa, no novo cantinho da sala, na cápsula do tempo que preparou a pensar em ti, nas palavras, nas atitudes. A vida é como as frutas novas que tu tens provado neste último ano: às vezes muito doce, outras vezes bem amarga. Há momentos que queremos provar muitas vezes, outros aos quais fazemos caretas e só queremos que acabem depressa. Alguns deles apanham-nos de surpresa, quando nem sabemos que careta usar. Neste último ano, deste à tua mãe momentos muito docinhos, a que ela respondeu com muito amor. Era a resposta inevitável. Mas a vida, malandra, deu a provar à tua mãe algumas frutas bem amargas. E ela fez caretas, tal como tu, só que não tão fofas. Mas sabes como é que ela respondeu depois? Da forma mais difícil: com amor. Com o amor mais forte que eu já vi nela. Um amor tão forte que, depois destes anos de amizade, ainda me conseguiu surpreender. E emocionar. Eu sabia que ela tinha um coração gigante, mas, aqui entre nós, tu fizeste com que ele se superasse, com que ele não tivesse limites mais. Tudo isto num ano apenas. Estou seriamente desconfiada que nasceste com super-poderes.

Parabéns, minha querida Leonor. E obrigada, de coração. Foste uma grande parceira de equipa nesta época que passou. Seguimos juntas, sempre. Sei que tenho em ti a melhor aliada para encher o prato da tua mãe com as frutas mais docinhas do quintal. Imagina quando conseguires trepar às árvores. Ela que se prepare.

Um abraço apertadinho,
Diana

365 razões para (não) fazer um 365

O mundo é povoado por loucos. Eu incluída. Cada louco com a sua loucura, cada tolo com a sua mania – ou qualquer outra expressão que possa encaixar aqui – o mundo lá vai sobrevivendo, louco, também ele, por não se cansar de andar às voltinhas. Acontece, por vezes, que pessoas loucas com gostos semelhantes tenham ideias ainda mais loucas, contagiando outras que não ambicionavam níveis mais elevados de loucura. Sim, isto vai ficar pessoal. A tragédia aconteceu no dia 1 de Janeiro de 2017 quando um grupo de amigos loucos – entre outras coisas, por fotografia – me aliciaram a fazer um 365. O conceito, inventado por um louco com muito tempo livre, era simples: tirar uma fotografia diferente por dia. Eu, que gosto de um bom desafio, agarrei-me aos meus escassos níveis de sensatez com todas as forças, e respondi “sim sim, que ótima ideia, não contem comigo”. Segue-se um bombardeamento de bons motivos de que eu me estaria a privar ao negar-me a esta ideia incrível. 29 anos de auto-conhecimento mantiveram-me firme na certeza que aquilo não era para mim: “Malta, isso é um compromisso muito grande. E eu sei que não vou conseguir cumprir, por isso não quero começar algo para depois ficar a meio. Têm todo o meu apoio, mas fico na bancada.” Só que não. Uns dias depois, uma amiga com ainda menos tempo livre que eu, liga-me com aquele argumento irrefutável “anda lá, se eu consigo, tu consegues.” Lá se foram 29 anos de auto-conhecimento ao ar num telefonema só.

Imaginem o que é começar o ano já com uma coisa para fazer por dia. É o que parece: péssima ideia. Mesmo que essa coisa seja algo que até gostam de fazer. Definitivamente, o sentido de obrigação estraga o clima. E depois, sei lá, a vida acontece. O mais normal é que haja um dia, ou vários, em que simplesmente não vai dar. Ou simplesmente não me apetece. Mas vá, se fosse fácil não era um desafio.

Melhor que isso, é que a imaginação dos loucos não pára, e a experiência foi ganhando toda uma outra complexidade. E regras. Ora vejam: tirar uma foto por dia – certo – e em cada semana, uma das fotos tem que responder a um desafio previamente definido por outro louco qualquer (disponível on-line aqui). Só assim já dá para ficar cansado. E que tal se, em cada um dos meses, uma das fotos tivesse que ser em “dose dupla”, mostrando uma perspectiva diferente? Fácil. Agora respirem, não se pode repetir o mesmo sujeito nas fotos mais do que 10 vezes. 10 vezes em 365 dias dá muita diluição. Mas não desanimem: nos dias em que não nos sentirmos inspirados, podemos ir buscar fotos ao “baú”. 10 no máximo, para o ano todo. Claro que eu usei as 10. E claro que não chegaram para os dias em que, por alguma razão, não deu. De resto, cumpri quase todas as regras. Na verdade, acho que falhei apenas a mais importante – tirar uma foto por dia. Detalhes. Aqui me confesso, por isso, admitindo que, em alguns dias, tirei mais do que uma fotografia e fui fazendo render para a semana. Já estou a rezar o pai nosso três vezes por serão.

Nem tudo à minha volta é fotografável para mim. E há semanas e semanas, vocês sabem. Mas enfim, olhando para tudo o resto, teria todas as razões para estar muito satisfeita com o meu desempenho. Há excepção de um último “detalhe”. Era suposto isto ter acabado a 31 de Dezembro de 2017, não a 3 de Dezembro de 2018. Como eu disse, detalhes. Vendo bem, só falhei o dia e o ano, o mês foi em cheio. Confirmei, com isso, o meu optimismo incurável – acreditei, até poucos dias antes, que ia conseguir acabar a obra a tempo. Até ao momento em que percebi que não. E aí, enfim, permiti-me um desleixo compensatório, como quando passamos um ano sem comer ferrero rocher e de repente devoramos uma caixa inteira porque, enfim, é Natal, e é um luxo sazonal que não podemos desperdiçar. Diria que 80% das fotografias são de facto de 2017. Em relação aos outros 20%, deste ano, podemos pensar nelas, de certa forma, como fruto das experiências desse ano também. Afinal, quanto do que somos hoje reflecte as experiências vividas nos anos anteriores? Não sei se me safo desta com reflexões filosóficas, mas fica a tentativa.

Regras à parte, estou orgulhosa de mim. Não tanto pela parte técnica – apesar de ter aprendido algumas coisas novas, especialmente com as ideias mirabolantes dos desafios semanais, sinto que muito disso se perderá por falta de prática – mas sim por algumas das fotografias que consegui sacar, e, mais do que tudo, por ter conseguido levar isto até ao fim. Ainda que fora do prazo de validade, mas podem ver na mesma que não vos vai deixar doentes da barriga. Se precisava de um 365 para sacar estas fotos? Acho que não. Fotografia é, para mim, uma forma de me expressar, e, tal como quando escrevo, a inspiração não vem todos os dias, e são mais os dias em que tende a não vir. Nunca a frase “aproveita o momento” fez tanto sentido como quando o tema é este. Contudo, tenho que admitir que o 365 me fez olhar para o que me rodeia com olhos mais curiosos que o habitual, qual predador à procura de alimento. Felizmente, foi só durante 365 dias. É que eu nasci para ser distraída. Ou com atenção selectiva, se preferirem.

Partilho convosco o resultado deste desafio louco, com a certeza profunda que não me apanham noutro. Mas não desincentivo ninguém, desta vez fico é MESMO na bancada. Um avé aos meus companheiros de equipa que lograram este feito a tempo e horas. Um dia vou ser disciplinada assim. Ou talvez não. Muito provavelmente não. Mas devo à vossa loucura este reviver de 80% – mais a teoria filosófica e pedaços do baú – do meu ano de 2017, ou, pelo menos, de algumas das imagens e momentos que ficaram para contar a história.

Vemo-nos por aí, nas próximas fotografias. Rebeldes, anárquicas, sentidas.
Bons disparos,
Diana Flores

(fotos com melhor qualidade, legendas e jogos do galo para todos os gostos disponíveis aqui)

uma história sobre (i)mortalidade

São tantas as teorias sobre a criação do universo, que eu às tantas nem sei a quem devo agradecer. Mas dou por mim a fazê-lo umas quantas vezes. O mundo é um lugar estranho e muitas vezes cruel, mas o mundo é também bonito, perfeito, inspirador. E não é preciso olhar com muita atenção ou viajar para locais exóticos. Na verdade, podem viajar apenas para a sala de cinema mais próxima e assistir a Bohemian Rhapsody.

Freddie Mercury não era perfeito, mas trazia a perfeição dentro dele. Quanta vida cabe num ser humano? Quanta ousadia e coragem precisa um homem para não ser outra coisa que não autêntico e genuíno? Serão as as angústias dos génios proporcionais ao seu talento? Ou infinitamente maiores? Quão magnífico é este poder (e responsabilidade) que temos de podermos ser quem quisermos, de nos podermos construir e destruir, ser o melhor e o pior, apenas com as nossas ideias e (boas ou más) decisões? Quão mágico e assustador é saber que uma parte do que somos será produto das pessoas com quem mais convivemos? Todas estas perguntas cabem nesta bonita homenagem ao Freddie, neste incrível hino aos Queen.

Aqueles quatro eram a fórmula perfeita. A irreverência máxima. Aqueles quatro simbolizam a liberdade, a coragem, a beleza da criação. Aqueles quatro são a verdadeira definição de arte. E que sortuda que eu me sinto por todas as vezes que a música deles me inspirou, na rádio ou num CD que nunca envelhece, ao vivo no meio de uma multidão, e, agora, num filme brilhante, com espaço para todas as emoções e para muita e boa música.
Um filme que, de uma forma tão subtil, coloca a nu o quão mortais somos nós, humanos, génios incluídos, e, na outra face, quanta imortalidade cabe nas nossas ações e na pegada que elas definem nesta casa que habitamos.

Obrigada Queen. Obrigada Brian May, Freddie Mercury, John Deacon e Roger Taylor. I want you to live forever.
Obrigada a todos os que fazem arte. O mundo fica muito mais bonito sempre que vocês se expressam, em qualquer uma das sete ou sete mil formas que inventam para o fazer. Não vos desejo menos que a imortalidade.

a minha amiga Teresa

A Bia foi embora há três semanas, e foram precisas três semanas para que eu conseguisse escrever sobre ela. Dito assim, até parece que a Bia é uma pessoa complicada. Mas, surpreendam-se, ela está exatamente no polo oposto. A Bia é simples, e é simples fazê-la feliz. A vida é que gosta de ser complicada, mesmo para pessoas simples assim. Por exemplo, a vida teima em fazer-nos trabalhar para ter sustento. A Bia, se pudesse, sustentava-se com ócio e boas sestas. Não sendo possível, ela não só trabalha, como dá um brilharete em tudo onde marca presença – quem sabe assim a vida pense duas vezes antes de quebrar utopias.

Com a Bia podes ter qualquer tipo de conversa – desde o mais recente mexerico até ao flagelo mundial que mais te preocupa. Ela vai ouvir-te, com uma empatia genuína e sem grandes preconceitos, vai mostrar-te outras perspetivas com uma gentileza que te desarma, e é capaz de ainda ter uma boa história para contar sobre o tema. Ver a Bia a discutir a sério com alguém é, na verdade, mais raro que um eclipse lunar. Posso adiantar-te, por isso, que se algum dia tu e a Bia discutirem, é altamente provável que ela tenha razão – mais vale poupares energias.

A Bia compreende o meu humor. Do mais rasca ao mais elaborado, transitando de forma exemplar de um elevado nível de inteligência e atenção para a banalidade do ridículo, da parvoíce de trazer por casa. E se o humor for negro, aí então é que ela sorri. Desenganem-se se pensam que há ponta de maldade nisso – é só a Bia a ser feliz, no seu jeito descontraído, com as coisas boas e simples da vida.

A Bia faz-me falta. Se vocês têm uma Bia assim na vossa vida – se não têm recomendo seriamente que encontrem uma – vão perceber do que falo. O problema é que eu não posso ficar zangada com a vida, porque a Bia foi ser (mais) feliz. A Bia foi ter com o mar, com o verde mais verde do mundo, e com o amor na sua forma mais autêntica: a família. A Bia foi para onde sempre sentiu ser a sua casa, e é uma casa linda, há que dizer. Nestas condições, não dá margem para barafustar. É muito bonito isto de dizerem que o mundo não tem fronteiras, mas eu não posso ir visistá-la a pé. Já para não falar que o teletransporte devia ter sido inventado muito antes dos drones. Estas pessoas não conhecem o conceito de prioridades. Talvez um dia a Bia lhes conte uma história. Mas sem pressa Bia, sem prazos. Prazos são sinónimo de procrastinação, e procrastinação causa um certo nível de ansiedade. E ansiedade não rima com simplicidade, por isso não é coisa que se ofereça à Bia. No entanto, na falta de outras ideias para o Natal, embrulhem e tentem a sorte – na pior das hipóteses, a Bia do Futuro resolve.

2 anos de buddha

Olá pessoas.
Hoje faço dois anos (já o donuts amarelo que recebi de prenda não vai poder dizer o mesmo, paz à sua alma agora sem apito).

Dois anos em vida de cão dá para ganhar algum estatuto. A minha personalidade está apuradíssima, daquelas de se abanar a cauda. Ele e Ela, por seu lado, continuam tão apaixonados por mim como no dia em que me foram buscar, de modo que a vida vai-me correndo bem.

Acumulei algumas cãoquistas ao longo deste último ano. A primeira secção é a dos petiscos. Finalmente posso dizer que conheço pelo menos 1/3 da roda alimentar: já experimentei legumes cozidos, frutas variadas e arroz, isto sem contar com as amostras de pecados que alguém vai largando perante a minha resiliência na hora da refeição dos outros. O barulho de um pacote de bolachas a ser aberto é inconfundível, por exemplo. Mas nem tudo são caprichos. Também como sopa. Menos quando a servem muito quente, aí fico só a olhar e a ladrar para ela. Quem sabe sob pressão arrefeça mais rápido.

Tenho também feito progressos notáveis na minha forma de comunicar. Já não ladro só. Agora faço tentativas de palavras, com diferentes entoações, e alguns rosnares pelo meio. Pela empatia, tudo.

Encontrei, entretanto, uma bola perfeita para mim. Todos achavam que a nossa relação não ia durar mais que dois dias. Mas ela tem um feitio de gancho. Não consigo furá-la por mais tente. Decidi, por isso, adotá-la, tal como eles fizeram comigo. Dizem que o karma não dorme, talvez assim ele me recompense e eu ganhe a montra final dos biscoitos.

Cresci um pedaço nestes meses, o que me complicou seriamente a arte do disfarce. 8 em cada 10 vezes que me tento esconder no meio de uma colcha ou manta acabo por ser descoberto por deixar sempre algo de fora. Estou a pensar pedir à Safira umas tutoriais sobre a técnica da invisibilidade. Sei bem que ela a domina, porque muitas vezes cãosigo cheirá-la mas não encontro o raio da gata em lado nenhum. Acho que podemos chegar a um acordo vantajoso para ambas as patas. Ela dá-me umas aulas, e em troca eu deixo-a fazer contacto direto para o meu terraço uma vez por semana durante 15 segundos. Depois disso, sou obrigado a ladrar, está na minha natureza canina.

Nos meus passeios ao ar livre, já sobrevivi a amontoados de água que parecem super apelativos para humanos mas nada tentadores para mim. Por outro lado, para que não se diga por aí que sou avesso a novas experiências, levei a cabo, muito recentemente, o meu primeiro xixi de pata alçada. A árvore não se queixou e eu não fiquei todo salpicado, pelo que considero que foi uma experiência bem sucedida. Cãotudo, não fiquei fã. Demasiada exposição ao nível dos países baixos para um cão tímido como eu.

Por último, mas não menos importante, o mais novo mudou-se cá para casa há quase dois meses. Ainda estou a aprender a partilhar o sofá com mais um, mas pelo menos ele alinha em corridas circulares por tempo indeterminado entre a cozinha e sala. Estava a baixar o meu nível de desempenho cardiovascular à custa daqueles dois velhotes, nada como sangue novo para retomar recordes. E a verdade é que eu nunca fui muito bom nisto das saudades, por isso tenho especial apreço por este conceito de objeto presente.

Enfim, contemplando a primeira foto minha de que há registo (à esquerda), parece-me inquestionável concluir que a idade me está a fazer bem (a outra esquerda). O segredo? Não posso partilhar. Mas isto de cãoviver com pessoas que gostam tanto tanto tanto de mim que às vezes até dá comichão deve ter o seu quê de rejuvenescedor.

olá, outono

Ele chegou.
Em tons de amarelo e castanho, e em todos os outros que no meio deles cabem. As folhas dançam, em espiral, sob o comando do vento. Quando ele acalma, elas descansam num tapete gigante que cobre o chão. Podia deitar-me nesse tapete o resto do dia, ouvi-las a ceder, estaladiças, ao peso de um corpo relaxado e feliz. O sol continua quente, para não me deixar sentir saudades do verão. Mal tu sabes, Outono, que é contigo que eu suspiro.

2018 tem sido um ano especialmente intenso para pessoas a quem eu quero muito e, consequentemente, para mim. Quando digo intenso, falo do melhor e do pior. Momentos inesquecíveis, que marcam uma vida, e, na mesma leva, surpresas tão amargas, tão injustas, tão difíceis de digerir. Hoje, dei por mim a traduzir em palavras uma das mais bonitas metáforas que descobri no Outono: consigamos nós ter a mestria de perceber e preservar o que realmente importa, e a coragem de deixar partir as folhas caducas, as surpresas amargas, as pessoas que já não querem ficar ou que já não queremos por perto, as memórias que nos amarram e não deixam espaço para que outras possam surgir. Hoje, se pudesse, eu dava um Outono a cada uma dessas pessoas a quem quero tanto. Ou, porque não, um Outono a todo o mundo. Uma oportunidade para recomeçar, para recriar e para nos recriarmos, para reconstruir, para nos reinventarmos com as novas folhas que hão-de nascer e com a certeza que, por mais duro que seja o inverno, haverá sempre uma nova primavera à espreita.

há dias para

Há dias para amar
e dias para resmungar

dias para receber colinho
e dias para amuar com beicinho

dias para a resiliência
e aqueles dias, em que os dois, somos só impaciência

dias tangentes à perfeição
e aqueles outros, malditos, onde até banalidades são matéria-prima para discussão.

Em todos somos, por inteiro,
o nosso melhor e pior
o nosso mais verdadeiro.

Há dias e dias, é certo
mas todos terminam assim
com um abraço apertado,
orgulho arrumado para o lado,
e a certeza que, no fim,
não há outro lugar
onde queiramos estar
que não este:
lado a lado.

(que nunca nos falte o abraço fácil em cada um dos dias difíceis ♡)

islândia, um pedaço de paraíso

Fechem os olhos por um instante e imaginem como seria o mundo no seu estado mais puro, mais virgem, mais autêntico. A Islândia podia bem ser esse lugar que acabaram de imaginar. Uma casa perdida aqui e ali, e uma rede de estradas que rasgam a paisagem – sem, contudo, lhe roubarem a beleza – são as poucas marcas da pegada humana que sobressaem neste pedaço de paraíso. Tudo o resto, é a Natureza na sua essência.

Ao volante de uma caravana improvisada, em cada curva e contracurva a expectativa cresce, as surpresas acumulam-se, a sensação de deslumbramento faz cair o queixo, vezes e vezes sem conta. A Islândia nunca desilude.

Agosto já vai a meio, é verão na ilha. Mas os retalhos do manto branco que cobrem as montanhas não deixam esquecer os invernos longos e rigorosos de que tem fama. Quando o sol se afirma, o branco sobressai e as nuvens, rendidas, revelam o glaciar na sua máxima imponência. É de perder as palavras. E de fazer cair o queixo, outra e outra vez.

A viagem segue por planícies imensas, de um verde que seduz de tão intenso que é. Aquele verde que nos convida, eternas crianças, a rebolar relva fora, até que o corpo, por fim, se imobilize, de sorriso aberto, a inventar desenhos a partir das nuvens que cruzam o céu e que, num ritmo pasmacento, seguem, determinadas, o seu caminho. Às tantas, a chuva aparece sem aviso prévio, relembrando o quão inesperado pode ser o clima na ilha. E o verde reluz, agradecendo à chuva – é ela que lhe alimenta a beleza, é ela que o torna tão verde, tão autêntico, tão atraente.

A cada par de km’s, uma cascata irrompe montanha abaixo – fica difícil manter os olhos na estrada, não há condutor que lhes fique indiferente. Não fosse o nosso tempo de viagem limitado, as paragens multiplicar-se-iam. Viajar na Islândia é tão simples assim: conduz-te (ou deixa-te conduzir) em qualquer direção, e não te apresses. Logo logo, vais querer parar o tempo e cumprimentar a Natureza nas suas mais diversas versões.

Esta não é terra de “calor” – sim, com aspas, não fosse o seu coração bem vulcânico – mas nem por isso os visitantes hesitam em atravessar cascatas em busca da melhor fotografia. Com um pé saltitante de pedra em pedra, a molha é garantida. Já da “melhor fotografia” não se pode dizer o mesmo. Esta ilha é bem ingrata, até para os fotógrafos mais talentosos, que se alinham, firmes como as montanhas que os resguardam, câmaras em punho e tripés enraizados no solo, miradouro após miradouro. Mas as fotografias falam tão baixo, ao lado de uma Natureza que grita, selvagem. Possam os olhos guardar imagens eternas, possa a nossa memória não nos atraiçoar.

Nos dias mais longos, a noite cai e nós ainda em movimento. A luz que resta de um sol já posto é o nosso candeeiro numa estrada em que a iluminação se resume aos refletores. Passam-se meias horas sem que se avistem sinais de civilização. As nuvens, longas e densas, dividem montanhas a meio, acabando por se esfumar em pedaços de algodão. A certo ponto, uma casa. Luz de presença ligada e carro à porta. Se dúvidas havia, ficam agora desfeitas – aqui vive mesmo alguém. Alguém que acorda, todos os dias, com uma paisagem que deslumbra em amplitude de ângulo giro. Será que estas pessoas se “habituam” a esta tela, como nós tendemos a habituar-nos ao cenário que nos envolve dia após dia? Qual terá sido a última vez que terão experimentado esta sensação de plenitude, de sedução? Será que ainda algo os surpreendente perante tamanha imensidão? Quantas vezes serei eu ainda surpreendida depois desta viagem para um mundo que parecia já só existir em sonhos? As respostas pouco importam, mas estas são as perguntas que, inevitavelmente, nos assaltam. A beleza natural desta ilha é algo simplesmente indescritível.

De quando a quando, os aglomerados de civilização dão um ar da sua graça, acolhendo os visitantes. Assim foi logo no primeiro dia, um domingo à noite chuvoso e pacato, como os domingos à noite devem ser. O frio que se fazia sentir na capital empurrou-nos para dentro de um restaurante local, atrás do famoso caldo de carneiro. O relógio já passava das 22h locais, a especialidade da casa estava esgotada. Não obstante, havia um banco corrido de madeira à nossa espera, e o corpo aqueceu ao sabor de um caldo de marisco, e ao som de boa música.

Já a sul, Vik foi o destino das grutas de gelo: “a gruta que vamos conhecer desaparecerá dentro de 4 meses. Tem sido assim nos últimos anos, o glaciar cede 12 a 13 metros por ano”, dizia David, o guia com sentido de humor que nos acompanhou nessa manhã. Mas aquele não era o momento para rir: “Tem tanto de triste como de desafiante para nós. Cada ano temos que descobrir uma nova gruta.” Silêncio geral. A tristeza momentânea do grupo escondeu, por instantes, a excitação que os trouxe até ao íntimo das montanhas e, daí, ao interior de uma pequena e efémera gruta de gelo.

A viagem rumo a nordeste intuía-se longa e difícil. Hofn tinha ficado para trás há mais de três horas e, após períodos alternados de sol e chuva que duravam pouco mais que uns minutos, o nevoeiro começava agora a densificar-se, anunciando-nos, visitantes, à montanha que teríamos que atravessar. Assim se manteve, sem tréguas, quando nos rendemos ao cansaço numa piscina termal, ao ar livre, já no topo da montanha. O frio que se fazia sentir depressa se desvaneceu quando, imersos em água a 37°C, nos apercebemos que, naquele momento, éramos apenas nós e uma imensa nuvem cinzenta que, nos momentos menos egoístas, nos deixava saudar a nossa anfitriã.

As estradas para Norte cruzando o lado Este da ilha revelaram-se bem mais rudes que a famosa N° 1, Ring Road. Aqui não há como e porque ter pressa, não fosse a paisagem igualmente deslumbrante. Aos degradês de verde ou castanho criados pela incidência da luz solar juntavam-se agora pinceladas do amarelo das flores que cobrem as planícies, recordando-nos que por aqui é verão. O azul, esse, é presença constante. Foram km’s e km’s de nada. E, ao mesmo tempo, de tudo.

Já em pleno coração da região norte, a linha do horizonte pinta-se de nuvens de fumo, dispersas, que emergem das montanhas castanhas, rachadas, esponjosas. As águas de Myvatn estão tão calmas e transparentes que espelham o céu ao máximo detalhe. O dia amanheceu envergonhado, mas o sol vai agora alto e nada tímido. As crateras sucedem-se, de tamanhos diferentes, homenageando as origens da ilha. As cascatas, majestosas e irreverentes, não prescindem do seu lugar. Água e fogo medem forças aqui, mantendo uma simbiose linda de se observar.

O calendário marcava 26 de Agosto, a viagem ia a meio. Eram aproximadamente 19h e havia ainda 2h de estrada a percorrer até ao parque de campismo dessa noite. Ainda assim, a curiosidade não nos deteve. Nem mesmo quando percebemos que, a certo ponto, nos esperava uma caminhada de 2km, ao longo de uma estrada secundária só acessível a 4×4. Abençoada curiosidade que venceu o cansaço e nos conduziu à que seria, para mim, a mais bonita das cascatas que vi. No pódio estava, até então, a Seljalandsfoss, um véu de água que podia ser contornado, permitindo que os tons de aguarela da paisagem fossem salpicados com a força da água que caía, enquanto o sol, audacioso, desenhava um arco-íris à nossa passagem. Um verdadeiro cenário de mundo encantado, que fazia as delícias dos inúmeros visitantes. A Aldeyjarfoss, por seu lado, recebeu-nos na privacidade da sua casa. Escondida por montes e rochedos, revelava-se apenas aos mais atentos, aos que escolhiam ir propositadamente ao seu encontro. Essa era parte da sua beleza, a forma como se encobria na montanha e, ao mesmo tempo, afirmava o seu caminho entre as rochas de formas ora aleatórias, ora minuciosamente geométricas, como se tivessem sido traçadas a régua e esquadro pela lava de outrora e, mais tarde, pela erosão que lhes conferia os retoques finais. Assim se apresentava, forte, límpida, selvagem e inacessível. Um verdadeiro grito da Natureza.

Ainda com deleite nos olhos, voltámos à estrada rumo a Dalvik, atravessando pequenas grandes cidades, piscatórias na sua maioria, que nos fizeram pensar que a vida humana nesta ilha se distribui essencialmente em 2 pólos opostos: Norte e Sul. A lua, plena e bem redonda, preenchia a noite como um verdadeiro candeeiro que ilumina toda uma sala de estar. Seria seu – e bem merecido – todo o protagonismo da noite, não fosse o esgar de aurora boreal que, num ápice, rasgou o céu. Incrédulos, com o jantar em lume brando, permanecemos, imóveis e deslumbrados, entregues à sorte que não acreditávamos ter em pleno mês de Agosto. Apareceu por duas vezes, com umas horas de intervalo, e sempre tímida. Mas apareceu, branca e, logo logo, daquele verde esperança. Que dia este, que viagem esta. Que sortudos somos nós por esta casa linda em que vivemos.

Os fiordes do oeste esperaram, pacientes, pelos últimos dias da nossa viagem. Não conseguiria imaginar, a este ponto, que existia na Islândia uma zona ainda mais virgem, mais pura, do que algumas que tínhamos já conhecido. Surpreendentemente, é exatamente isso que se pode esperar do (Nor)Oeste: uma região árida, de um verde mais seco, mas com o beijo constante de um mar salgado e sereno. As montanhas sucedem-se, como muralhas intransponíveis, recortadas apenas pelo ziguezaguear de estradas, muitas das quais ainda em gravilha. Os poucos visitantes que por cá se aventuram vêm, normalmente, em busca do “véu da noiva”. Mas, por cá, esse não é o único romance.

À noite, mergulhados nas águas quentes de uma piscina natural com vista para o mar, perdemos a noção do tempo, de olhos postos no céu. Aquele era o local perfeito para rever a aurora boreal. A paciência foi recompensada. O silêncio – a banda sonora perfeita para aquele momento – foi quebrado pela excitação das “northern lights”, novamente tímidas e fugazes. A lua, por seu lado, brilhante e fiel, iluminou-nos os passos quando não se conheciam outras luzes, até ao momento em que, exaustos, permitimos que o silêncio voltasse a tomar conta da noite.

30 de Agosto: o dia de regressar a Reykjavic, capital e, de longe, a maior amostra de civilização que se vê pela ilha. Vários foram os momentos ao longo da viagem em que cheguei a pensar que havia na Islândia mais turistas que habitantes. A Blue Lagoon, raínha das hot springs, reconhecida como uma das 25 maravilhas do mundo, é mais uma das grandes sobreviventes ao turismo de massas. Talvez o segredo sejam os 9 milhões de litros de água que a compõem, que se renovam a cada 40 horas, onde tudo se dilui, desde as mais pequenas excentricidades e caprichos, aos grandes pecados capitais. Ou talvez seja a sílica, guardiã daquele azul tão límpido, tão genuíno como as suas raízes vulcânicas, que jamais se deixará corromper. E isso, isso sim, é que a torna tão “maravilhosa”.

Foram 13 dias a traduzir em imagens a palavra Natureza. A replicar e expoenciar cada um dos seus 4 elementos. A Natureza que deslumbra e tranquiliza. A Natureza que nos torna tão pequenos quando mergulhados na sua imensidão. A Natureza perfeita que, revelando-se nos nossos sonhos, pode, afinal, ser tão real. A Natureza que nos inspira, que nos faz querer mimá-la, cuidá-la, como ela, diária e incansavelmente, nos mima e cuida de nós. Não será, afinal, por acaso, que muitos lhe chamam de Mãe.


19 de Agosto
Reykjavík
Jantar: Icelandic Street Food
Estadia: Reykjavík Hostel Village

20 de Agosto
Thingvellir National Park
Öxarárfoss Waterfall
Geyser Strokkur
Estadia: Langbrók Camping

21 de Agosto
Road 261 perto de Langbrók
Gljúfrafoss Waterfall
Seljalandsfoss Waterfall
Skógafoss Waterfall
Dyrhólaey (puffins)
Estadia: Vik Camping

22 de Agosto
Ice Cave
Laufskalavaroa
Fjaðrárgljúfur
Kirkjugólf
Estadia: Tjaldstæðið Kirkjubaer II Camping

23 de Agosto
Skaftafell | Vatnajokull National Park
– Trilho Svartifoss Waterfall
– Trilho Skaftafellsjökull Glaciar
Fjallsárlón
Jokulsárlón (Diamond Beach)
Estadia: Höfn Camping

24 de Agosto
Stokksnes
Laugarfell (https://laugarfell.is/)
Estadia: Laugarfell (parking)

25 de Agosto
Dettifoss Waterfall
Ásbyrgi Canyon
Estadia: Heidarbaer Camping

26 de Agosto
Grjótagjá Cave
Viti Crater
Lake Myvatn
Godafoss Waterfall
Aldeyjarfoss Waterfall
Estadia: Dalvík Camping

27 de Agosto
Tröllaskagi Peninsula
Estadia: Hvammstangi Camping

28 de Agosto
Saudarkrokur Peninsula
Hvítserkur
Dynjandi Waterfall
Estadia: Flókalundur Camping (Hot Springs)

29 de Agosto
Kirkjufell
Hellissandur Street Art
Djupalonssandur Beach
Ytri Tunga Beach
Estadia: Akranes Camping

30 de Agosto
Reykjavík
Blue Lagoon
Jantar: Devito’s Pizza + Bæjarins Beztu Pylsur (hot dog)

 

Fotografias da autoria de:
Diana Lopes
Pedro Santos