As últimas semanas têm sido intensas.
Ironicamente, o tempo por aqui parece fugir como se tudo estivesse igual – é que, antes de tudo o mais, é preciso voltar a juntar as peças que foram quebradas com a pandemia, e é preciso inventar novos puzzles para sobreviver a ela.
Mas a verdade é só uma: não está tudo igual. E não vai ficar tão depressa. E é preciso dar-nos um tempo para o sentirmos de todas as formas que nos cheguem, com tristeza ou alegria, com revolta ou com esperança, com medo ou com resiliência.
Este vídeo deu-me uns minutos de pausa para me permitir parar, sentir, chorar as emoções. E sorrir. A arte tem este poder maravilhoso sobre nós.
Tenho pensado neles – artistas – e em todas as pessoas/trabalhadores para quem a versão digital não tem como ser uma opção – e que estão, assim, com a vida em suspenso e, imagino, aterrorizados com o futuro tanto ou mais do que com o presente.
Tenho pensado nos empresários a quem o sono se foi, porque tudo o que pensam, dia ou noite, é se vão conseguir pagar as contas no final do mês, dos meses, e nos trabalhadores que estão consigo neste barco que não sabem ainda se chegará a bom porto, temendo que se afunde junto com os sonhos e o suor de uma vida.
Tenho pensado nos pais que, por esta altura, devem já estar exaustos, a trepar paredes, enquanto se dividem entre o teletrabalho e o cuidado aos filhos que estão por casa, e se questionam quanto tempo mais poderão aguentar assim.
Tendo pensado nas crianças a quem a escola digital não chega, nos idosos isolados nas suas casas, nas grávidas que já devem ter questionado a sua má sorte para trazer o seu bebé ao mundo em tempos tão incertos, nos recém-nascidos que não vão ser abraços ao nascer.
Tenho pensado nas famílias que choram a morte dos seus, e nas que respiram de alívio pelos números da TV não representarem ainda caras conhecidas. Tenho pensado em Itália, em Espanha, e em como estes nomes agora parecem apenas nomes, num mundo que afinal é um só.
Tenho pensado nos guerreiros que todos os dias se apresentam na linha da frente, divididos pela missão e pelo medo de, ao salvar os outros, não se salvarem a si ou aos seus.
Tenho pensado tanto, e ao mesmo tempo tão pouco. Sentido tanto, mas, ao mesmo tempo, tão pouco.
Sei que me sinto agradecida por saber que ainda me falha o tempo: é sinal que a vida, de uma forma ou de outra, ainda continua por aqui. Sinto-me agradecida por não ter que estar na linha da frente – eu, ou qualquer um dos meus – com todos os riscos que isso acarreta. Sinto-me agradecida por ter esta força, esta esperança, este optimismo que sempre viveram em mim, e que me dão a tranquilidade para viver um dia de cada vez com a certeza que “vai ficar tudo bem”.