Quando foi a última vez que levaste um soco no estômago? Eu lembro-me bem. Foi um soco que durou as últimas duras horas. Um soco chamado Joker.
É assim que reconheces um bom filme: quando ele te atinge nas entranhas e não te deixa dormir até que a dor alivie um pouco.
Joker mostra-nos a forma como falhamos às pessoas. Como falhamos como pessoas. Inconscientemente, ou com plena intenção. Joker mostra-nos como falhamos às pessoas/como pessoas cada vez que escolhemos olhar para o lado, criticar antes de tentar compreender, julgar antes de conhecer. Quando ignoramos porque não é connosco, quando não são os nossos problemas, quando não está no nosso metro quadrado de chão.
Joker mostra-nos como falhamos às pessoas/como pessoas quando escolhemos a indiferença, quando decidimos que não passa por nós olhar pelo outro, olhar para o outro, olhar para nós no lugar do outro. Quando, às vezes, estamos tão cegos de nós que não conseguimos sequer ver que há um outro.
Esta noite levei um soco, e espero não me esquecer dele tão depressa. Que me acompanhe e me torne mais humilde, mais generosa, mais humana. Que me faça falhar menos, às pessoas, como pessoa. Esta noite levei um soco no estômago. E não podia ir dormir mais agradecida por ele.
Em dias como os que vivemos hoje, dou por mim a desejar que muitos de nós, por esse mundo fora, pudessem levar um soco assim também.