A Bia foi embora há três semanas, e foram precisas três semanas para que eu conseguisse escrever sobre ela. Dito assim, até parece que a Bia é uma pessoa complicada. Mas, surpreendam-se, ela está exatamente no polo oposto. A Bia é simples, e é simples fazê-la feliz. A vida é que gosta de ser complicada, mesmo para pessoas simples assim. Por exemplo, a vida teima em fazer-nos trabalhar para ter sustento. A Bia, se pudesse, sustentava-se com ócio e boas sestas. Não sendo possível, ela não só trabalha, como dá um brilharete em tudo onde marca presença – quem sabe assim a vida pense duas vezes antes de quebrar utopias.
Com a Bia podes ter qualquer tipo de conversa – desde o mais recente mexerico até ao flagelo mundial que mais te preocupa. Ela vai ouvir-te, com uma empatia genuína e sem grandes preconceitos, vai mostrar-te outras perspetivas com uma gentileza que te desarma, e é capaz de ainda ter uma boa história para contar sobre o tema. Ver a Bia a discutir a sério com alguém é, na verdade, mais raro que um eclipse lunar. Posso adiantar-te, por isso, que se algum dia tu e a Bia discutirem, é altamente provável que ela tenha razão – mais vale poupares energias.
A Bia compreende o meu humor. Do mais rasca ao mais elaborado, transitando de forma exemplar de um elevado nível de inteligência e atenção para a banalidade do ridículo, da parvoíce de trazer por casa. E se o humor for negro, aí então é que ela sorri. Desenganem-se se pensam que há ponta de maldade nisso – é só a Bia a ser feliz, no seu jeito descontraído, com as coisas boas e simples da vida.
A Bia faz-me falta. Se vocês têm uma Bia assim na vossa vida – se não têm recomendo seriamente que encontrem uma – vão perceber do que falo. O problema é que eu não posso ficar zangada com a vida, porque a Bia foi ser (mais) feliz. A Bia foi ter com o mar, com o verde mais verde do mundo, e com o amor na sua forma mais autêntica: a família. A Bia foi para onde sempre sentiu ser a sua casa, e é uma casa linda, há que dizer. Nestas condições, não dá margem para barafustar. É muito bonito isto de dizerem que o mundo não tem fronteiras, mas eu não posso ir visistá-la a pé. Já para não falar que o teletransporte devia ter sido inventado muito antes dos drones. Estas pessoas não conhecem o conceito de prioridades. Talvez um dia a Bia lhes conte uma história. Mas sem pressa Bia, sem prazos. Prazos são sinónimo de procrastinação, e procrastinação causa um certo nível de ansiedade. E ansiedade não rima com simplicidade, por isso não é coisa que se ofereça à Bia. No entanto, na falta de outras ideias para o Natal, embrulhem e tentem a sorte – na pior das hipóteses, a Bia do Futuro resolve.
Tenho essa mesma Bia na minha vida há 30 anos e não teria conseguido descrevê-la tão bem! É mesmo isso 🙂 Se conseguiste decifrar a Bia dessa maneira é porque também deves ser muito especial para ela!Beijinho
A minha irmã 🙂 sem tirar nem pôr.
Um texto brilhante, como já vi que é hábito da autora!