Do capítulo ‘coisas que mais gosto’: chocolate, e uma boa história.
É sobre isso que escrevo hoje: boas histórias. Não tenho por hábito queixar-me da minha criatividade. Ela vai aparecendo, de quando a quando, e eu faço por tratá-la bem. Gosto da companhia dela. Gosto do facto de não ter que pagar por ela. Mas, mais do que tudo, gosto da sensação de poder transformá-la nos sorrisos, nas lágrimas ou nos suspiros e caretas das pessoas que nos lêem.
E depois há aqueles momentos. Aqueles momentos em que sou eu e ela que vestimos as emoções. Aqueles momentos em que lemos uma boa história e nos sentimos pequeninas. Mas um pequenino bom, um pequenino com o sabor doce de quem ouve uma boa história antes de adormecer. Um pequenino com a cadência e previsibilidade de quem pede sempre a mesma história noites a fio. E todas as noites adormece feliz.
É por isso que, sempre que ouço uma boa história, o meu corpo rende-se e aplaude cada detalhe, reviravolta, clichê ou déjà vu que a boa história possa ter. Porque as histórias reais são assim mesmo: ricas em detalhes camaleonicamente subtis, em clichês que podiam ter sido escritos por dois adolescentes apaixonados, feitas de reviravoltas inesperadas, de armadilhas em forma de déjà vu que nos relembram que, noves fora, não somos muito diferentes quando o assunto se trata de ser (in)feliz. A vida real é sobre a amizade e as gargalhadas. Sobre o medo e a solidão. É sobre a morte – não tanto a nossa, sim tanto a dos que amamos. Sobre a família, essa velha conhecida que nasce com o super-poder de ser caos e devastação e ao mesmo tempo escudo e serenidade. Sobre os dias que se repetem e as noites mal dormidas. Sobre a resiliência. Sobre os dramas mais banais e nem por isso menos dramáticos. Sobre vícios e limites. Sobre o sonho, a utopia, ou esta predisposição humana de correr atrás da perfeição. Do companheiro perfeito. Do casamento perfeito, o trabalho perfeito. De ser a mãe ou o pai perfeito. É sobre o amor. Sobre aquele amor maior que fica sempre ali, teimoso e persistente, sentado, a comer tremoços com barbas de algodão-doce, enquanto assiste, tranquilo, ao desfile das nossas muitas imperfeições, com a certeza que nenhuma o fará desistir daquele lugar.
This Is Us é tudo isto. É uma boa história. Melhor do que isso, é uma boa história que podia ser real. Somos nós e as nossas vidas banais. E que bonitas que elas são. Que confortante é perceber que ficam ainda mais bonitas, mais especiais, quanto as vemos assim, na bancada. Ou no sofá, enrolados na manta que ainda sobrevive porque a PrimaVera este ano é toda ela timidez. Aqueles somos nós. Já se deram conta? Alguém nos raptou pela calada e nos transportou para aquela história bonita e surpreendentemente real. Alguém – tão genial como a criatividade que lhe saiu na rifa – pegou em nós e criou uma boa história, e eu voltei a ser emoções, voltei a ser sorrisos e lágrimas, e suspiros e caretas. Episódio atrás de episódio. Duas temporadas corridas, mal posso esperar para ouvir as próximas boas histórias que esse alguém escreveu sobre as nossas vidas banais.
Até lá, que nunca me falte o chocolate, e a vida segue feliz.