O coração tem lugares estranhos. E por estranhos não entendam maus. Estranhos. Aquela estranheza de algo que não sabemos definir. Ensinaram-me na escola que o coração tinha duas aurículas e dois ventrículos. Mas ninguém me ensinou que além deles existiam ainda estes lugares: estranhos.
2018 tinha acabado de se estrear no mundo. Pintado de fresco. E depois de me ter dado música para os primeiros passos de dança do ano, deu-me um reencontro. Ofereceu-me a alegria de rever alguém que trazia na memória com muito carinho, e no coração nesse lugar estranho que não consigo definir.
Temos uma mão cheia de anos de diferença e duas mãos cheias de anos sem nos cruzarmos. E com o mesmo acaso que os nossos caminhos se encontraram por uma semana em dois anos consecutivos no passado, quis 2018 juntar-nos na mesma cidade e na mesma pista de dança.
Ontem vingámos 10 anos de ausência da melhor forma: sentados à mesa da saudade, a fazer companhia a um bom vinho. As conversas atropelaram-se, as palavras eram tantas e tão escasso o tempo. Experimentem recuperar 10 anos num jantar de 4 horas. Já vi exames de matemática mais fáceis. Foi tanta a vontade de correr atrás do tempo que passou que nem tive tempo para cair em mim e sentir como me estava a fazer bem aquele reencontro. Como estava agradecida a 2018 por esta surpresa. Como o mesmo carinho que tenho por este “miúdo” se mantinha cá, tão vivo e tão sincero, como na semana em que o conheci. Um carinho que vive nesse lugar estranho do coração que eu não sei definir. Não o chamaria de amigo, embora lhe desse a minha amizade sem pensar duas vezes. Não é família, embora lhe queira bem como a um irmão. É um lugar estranhamente bom, estranhamente estranho, ao qual eu vou querer voltar.
A chuva decidiu continuar o que 2018 começou.
Que venha por isso a próxima garrafa de vinho, com a avalanche de palavras que ainda ficaram por dizer. E com espaço para eu poder sentir como sou feliz nestes acasos e nestes lugares estranhos do coração.
Para ti, Alexandre, só uma última adenda: o guarda-chuva é parolo, mas é meu. Por isso trata de pensar em o devolveres.
Para vocês, pessoas, um desabafo: se não se puderem oferecer mais nada este ano, ofereçam-se a alegria de um reencontro com o(s) lugare(s) estranhos do vosso coração.