Minha pequena Leonor,
Enquanto o mundo já se pergunta quando é que te vai poder abraçar, a tua mãe está tranquila e radiante por cada dia mais que lhe dás neste estado de graça. Este era um dos seus grandes sonhos: estar grávida, ser mãe. E eu sempre soube, e mantenho essa certeza, que ela ia ser uma mãe incrível. Soube-o dias a fio, durante os vários anos em que tive a sorte de viver esta amizade que nos une no conforto da mesma casa, do melhor sofá do mundo. Ela cuidou de mim com o mesmo amor que se cuida de quem precisa que lhe mudem a fralda. Eu já não estava nessa fase, mas os jovens adultos conseguem igualmente ter os seus desafios. E eu cuidei dela também, à minha maneira despassarada, desajeitada, improvisada.
Não me lembro de ver a tua mãe triste muitas vezes. E sei porquê: ela é A Alegria. O hino foi feito a pensar nela, podes acreditar. No seu estado mais espontâneo, a tua mãe pega no mais banal que a rodeia e transforma em brincadeira, em parvoíce, ou em música. E depois disso recorda uma memória boa, porque ela é uma pessoa de memórias. Ela guarda o amor, o carinho, as pessoas, no coração e nas caixas de cartão. E fala delas com o mesmo brilho nos olhos com que desafia o presente. A tua mãe é uma pessoa feliz. Genuinamente feliz. É uma pessoa de emoções. E por isso chora muito também. Algumas vezes de alegria ou comoção. Mas também chora pelas tristezas e desafios que a vida nos deixa nas mãos quando nos puxa o tapete. Mas a tua mãe é uma mulher de força. E depois das lágrimas ela volta ao campo de batalha, e vai à loja de decoração mais próxima e compra um tapete novo e fofinho. Porque a vida, como a nossa casa, é para ser bonita.
Também não esperes da tua mãe timidez. Quando andares a passear com ela na rua, faz com que leve fraldas e mantimentos em número suficiente para tantas paragens como as do metro que vai para o aeroporto. É que ela conhece meio mundo, e o outro meio conhece-a a ela. É uma coisa que normalmente acontece às pessoas felizes que não conseguem estar caladas. Essa é outra qualidade da tua mãe. Nunca vais precisar de um quebra-gelo. No teu primeiro dia de escola, leva-a contigo e põe um bloco de notas na mochila. No final do dia, terás pelo menos duas páginas de relatório sobre cada um dos teus futuros amigos, com detalhes tão bons como a consistência do seu cocó nos últimos meses ou um cronograma das datas em que lhes nasceram os dentes. Sim, porque a tua mãe é também uma pessoa de pormenores. E a vida fica tão mais bonita com (quase todos) eles.
Estou neste momento a caminho do Porto, a cidade que as duas escolhemos para viver, sob a força de uma tempestade com o nome dela: Ana. Se um dia precisasse de falar das duas a alguém, sobre a tua mãe eu diria: “a minha Ana”. Mas a força que vive na “minha Ana” é tão grande como a da tempestade. E está a torná-la numa mulher maravilhosa. Não te preocupes, eu tive 9 meses para me habituar à ideia que vou ter que a partilhar com mais uma pessoa. Primeiro com o teu pai, agora contigo. E não estou triste nem preocupada. Estou, na verdade, irremediavelmente feliz e aliviada: possa eu, numa vida inteira, dar-lhe um décimo da felicidade que ela sente só por estar ao vosso lado. Bem-vinda à equipa Leonor. Eu quase ainda não consigo acreditar que tu vens mesmo aí, que tu és tão real. Mas tenho a certeza que, juntas, vamos fazer da tua mãe uma pessoa ainda mais feliz.