“Quero o inverno outra vez”,
Disse ele ontem, já ensonado.
E entre o sono eu sorri, também quero esse inverno citado.
Hoje, tenho a certeza: o inverno pode esperar.
E peço ainda, se possível, que as horas passem bem devagar.
Que os ponteiros, desnorteados, tropecem nos minutos já contados.
Que os dias se alarguem numa preguiça matinal.
E que o Sol se engane na estrada para Poente.
Que o dia volte atrás, por cada noite em frente.
Que o mundo, ao seu jeito, gire que nem tartaruga.
Que a vida, pachorrenta, se demore no passar:
Tal qual moça vaidosa, quando se quer pôr bonita
Ou como o moço que, por má sorte,
Não encontra o par da peúga.
Não tenho, amor, porque apressar
Esse inverno que me dizes
Porque ao teu lado, nos entretantos,
Eu só conheço horas felizes.
Além do mais e também,
O retrato é quem o diz: o Verão fica-nos bem.