Fico rendida quando vejo pessoas apaixonadas: por alguém, por uma causa, por uma profissão. São 22h e sentamo-nos à mesa para jantar. Somos recebidos com a mesma simpatia e carinho com que se levantaram de manhã. O brilho no olhar já não brilha tanto – são 22h afinal de contas! – mas só porque o cansaço que toma conta dos olhos não deixa espaço para grandes partilhas. A dedicação, essa, continua lá. Não há cansaço que vença uma paixão.
Serpenteiam-se por entre o desejo de um freguês e a ânsia do outro. Podem esquecer-se de trazer a lista, mas nunca do sorriso. Não fosse o nosso cansaço também, e quase que esquecíamos que já eram 22h. Ou melhor, meia noite. Quase meia noite e ainda há lugar na mesa para aquele mimo especial. Ainda há espaço para falar do verão, da disposição das mesas quando a casa enche, da medicação que não deixa brindar connosco.
Falam com o coração. Fazem-me sentir em casa, esteja o restaurante vazio (coisa rara) ou com dez pessoas à porta, a abrigarem-se da chuva com a certeza que a espera compensa. No meio de umas garfadas e um gole de vinho, ainda lhes sacamos um sorriso rasgado. Gargalhadas a esta hora é só para os mais talentosos – e nosso o talento também tem sono. Estamos todos cansados, estamos todos felizes. Tivemos a sorte de nascer bem dispostos (aposto que estava sol nesse dia).
Tenho orgulho destas pessoas. Genuínas como a cidade que escolhi para viver. Acolhedoras como só os portugueses sabem ser. Generosas. Trabalhadoras. E, voltando aos aperitivos: apaixonadas.
São as pequenas grandes coisas.
Maria Rita, Porto